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Em entrevista, Hamilton Faria avalia os resultados e desafios da III Conferência Municipal de Cultura

14/08/2013

O poeta e coordenador da área de Cultura do Pólis, Hamilton Faria, participou da III Conferência Municipal de Cultura, que aconteceu no início de agosto, em São Paulo. Para ele, “houve um clima de convivência, talvez o melhor das três conferências, aproximando grupos culturais e também a sociedade civil e o governo”.

O objetivo da Conferência é a construção de uma política pública que promova a inclusão e o desenvolvimento social, tendo como área de desenvolvimento destas ações a Cultura em todas as suas formas de manifestação.
Entre os eixos temáticos deste ano, foram debatidos o Sistema Municipal de Cultura (Eixo 1), a Produção Simbólica e a Diversidade Cultural (Eixo 2), a Cidadania e os Direitos Culturais (Eixo 3) e Cultura e Desenvolvimento (Eixo 4).

“Os grupos culturais, de modo geral, sem querer diminuir o seu protagonismo, ainda guiam-se pela realização das suas reivindicações imediatas e não por uma visão mais abrangente da cidade. Um grande desafio é construir uma Agenda da Cidade que leve em conta não apenas a arte, mas, os direitos, os modos de vida, as escolhas que podem ser feitas na cidade”, diz Faria.

E completa “A Conferência contou com centenas de participantes e o debate foi bastante qualificado, tanto nas pré-conferências como na Conferência”.

Leia abaixo a íntegra da entrevista, realizada no dia 14 de agosto.
Qual é a importância da III Conferência Municipal de Cultura para São Paulo?

Hamilton Faria – São Paulo, apesar de muitas ações importantes que aconteceram na área da Cultura, sai de uma gestão bastante desgastada do governo municipal, sem diálogo e desconectada de outras regiões da cidade. A realização da conferência em si e a criação de um espaço público onde houve participação e a deliberação de teses, teve um papel político-cultural, além de ter sido simbolicamente importante porque marcou um cenário diferente para o desenvolvimento cultural da cidade. Participaram do encontro diversos grupos da periferia, das zonas leste e sul, principalmente, e organizações populares, e aconteceu em várias linguagens [teatro, arte de rua, audiovisual, cultura surda]. Foram eleitas 30 propostas e 16 delegados para a Conferência Estadual de Cultura. Houve um clima de convivência, talvez o melhor das três conferências, aproximando grupos culturais e também a sociedade civil e o governo.

Como foi a participação dos agentes culturais?

– Houve uma defasagem entre os que se inscreveram e os que realmente participaram, e isso se atribui a um certo descrédito das instituições, às muitas agendas da cidade e também à facilidade de se inscrever no evento a partir dos novos meios de comunicação. Além disso, registra-se um certo cansaço participativo dos agentes culturais da cidade e uma defasagem entre as promessas e deliberações e as concretizações destas, isso historicamente.

Quais foram as principais propostas apresentadas na Conferência?

– Entendo que, a partir da conferência, são muitos os cenários que se abriram em relação ao desenvolvimento da cidadania cultural, como a imediata instalação do Conselho Municipal de Cultura, a partir de consultas públicas, a criação do Plano Municipal de Cultura e a reestruturação da Secretaria Municipal de Cultura [orçamento, sistema de cargos e salários, capacitação, descentralização], principal proposta indicada pela conferência. A Conferência constatou que é impossível responder ao tempo cultural com a estrutura morosa, reduzida e sem capilaridade da secretaria. Também foram fortalecidas em propostas a enorme diversidade cultural da cidade.

Existe de fato um entrosamento entre os agentes culturais e as outras esferas da cidade (transporte, meio ambiente, moradia)?

– Os grupos culturais, de modo geral, sem querer diminuir o seu protagonismo, ainda guiam-se pela realização das suas reivindicações imediatas e não por uma visão mais abrangente da cidade. Um grande desafio é construir uma Agenda da Cidade que leve em conta não apenas a arte, mas, os direitos, os modos de vida, as escolhas que podem ser feitas na cidade. Para construirmos essa Agenda é central estabelecer uma cultura de direitos e de convivência e paz, com correlações vivas com o patrimônio material e imaterial da cidade, com a sua diversidade cultural, a sua cultura alimentar, o seu meio ambiente, os imigrantes, os bairros e a diversidade dos grupos. A presença da cultura no desenvolvimento da cidade, com ações transversais e descentralizadas, e em diálogo constante com os diversos seguimentos, poderá levar a ação cultural a ser um componente decisivo do direito à cidade.

 

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