violências LGBTFóbicas na cidade de são paulo
violências LGBTFóbicas na cidade de são paulo junho 2024
fomento
duas lentes sobre o mesmo fenômeno
Os dois bancos de dados disponíveis captam de forma diferente o fenômeno da LGBTfobia: os dados da Saúde registram as violências mais graves que geraram demanda de atendimento no sistema de Saúde: violências físicas, sexuais, psicológicas, etc. Já os dados da Segurança Pública demonstram as ocorrências que foram denunciadas via boletim de ocorrência à Polícia Civil do Estado de SP, sejam elas provocadas por agressões verbais, simbólicas ou físicas.
Nem toda violência LGBTfóbica chega ao sistema de Saúde, nem toda ocorrência LGBTfóbica é registrada nos meios de denúncia da Segurança Pública.
Seguindo o mesmo raciocínio, nem toda violência que é atendida por um serviço de saúde é, devidamente, notificada a autoridades policiais para que se faça o registro da ocorrência.
Entre 2015 e 2022, a Segurança Pública registrou 525 casos de lesão corporal e violência doméstica em ocorrências classificadas por “homofobia/ transfobia”. No entanto, a Saúde atendeu um total de 1.147 vítimas de violências físicas no mesmo período.
Outros exemplos: no mesmo período, foram denunciados à Polícia Civil apenas 3 casos de violência psicológica e 6 estupros, mas a Saúde atendeu 733 vítimas de violência psicológica e 269 de violência sexual.
o padrão territorial da LGBTfobia registrada pela Segurança Pública é diferente daquele identificado nos atendimentos do sistema de Saúde
A espacialização do total de vítimas por distrito da ocorrência demonstra que as violências motivadas por “homofobia/ lesbofobia/transfobia” registradas pela Saúde se concentram principalmente em distritos mais periféricos, como:
- Itaim paulista, 123 vítimas
- Cid. Tiradentes, 103
- Jd. Ângela, 100
- Jd. S. luís, 75
- Capão Redondo, 75
- Grajaú, 65
As vítimas de “homofobia/ transfobia” registradas pelos B.O. da Seg. Pública apresentam outra distribuição espacial, com destaque a distritos centrais, como:
- (a) República, 160 vítimas
- (b) Bela Vista, 102
- (c) Consolação, 96
Mas também em distritos fora da Subprefeitura da Sé, como:
- (d) Itaquera, 82
- (e) Vila Mariana, 79
- (f) Grajaú, 71
- (g) Jd. Paulista, 71
As violências LGBTfóbicas registradas pela Saúde apresentam um padrão territorial menos central do que das ocorrências registradas pela Segurança Pública. Os distritos da Subprefeitura da Sé, por exemplo, somam 7% do total de vítimas da Saúde, mas 15% das vítimas registradas pela Segurança.
as taxas de vítimas pela população de cada distrito não têm o mesmo padrão territorial quando comparadas as bases da Saúde e da Seg. Pública
Não há estimativas da população LGBTQIAPN+ para ponderar os números dos dois bancos de dados. Ainda assim, a taxa de vítimas por cem mil habitantes de cada distrito pode ajudar a ler os diferentes padrões territoriais das violências LGBTfóbicas.
Distritos que registram altas taxas de vítimas de LGBTfobia com denúncia por B.O. da Seg. Pública, como Consolação, Jd. Paulista, Pinheiros, Butantã, Morumbi não têm o mesmo destaque quando consideradas as taxas de vítimas das violências acolhidas pela Saúde. O mesmo ocorre com distritos da zona norte como Pirituba, Freguesia do Ó, Limão, Casa Verde e Santana.
Assim como outros dados, os mapas sugerem que as vítimas de ocorrências LGBTfóbicas que têm acesso à denúncia, e geram B.O., não são necessariamente as mesmas que procuram atendimento do sistema de Saúde. Além do padrão de localização, os tipos de violências também não são os mesmos.
dados da segurança pública
a principal concentração de ocorrências LGBfóbicas está na região de festas, bares, lazer e ativismo LGBTQIAPN+
O mapa à esquerda indica uma concentração significativa de ocorrências na região central de S. Paulo, especialmente no distrito República, mas também na Bela Vista e Consolação.
O mapa de calor dos espaços LGBTQIAPN+ (inferior) mostra um padrão territorial de concentração semelhante ao dos B.O. de “homofobia/transfobia”: os principais focos estão nos distritos Bela Vista, Consolação e República.
Os espaços de sociabilidade LGBTQIAPN+ foram identificados no âmbito do projeto Territorialidades LGBTQIAPN+ na Cidade de S. Paulo, a partir do levantamento de quase mil locais de lazer (festas), encontros (bares, restaurantes, cinemas, saunas), consumo, memória e ativismos.
As principais concentrações de vítimas de “homofobia/transfobia” registradas pela Seg. Pública estão na Pça. República, Lgo. Arouche, R. Rego Freitas, Pça. Dom José Gaspar e Anhnagabaú (Distrito República) e no eixo da R. Augusta (Distrito Bela Vista). Av. Paulista, Frei Caneca, Pça Roosevelt, Sé e Pça. da Liberdade também se destacam como focos.
Neste mapa, não foram consideradas as ocorrências na internet (que não são geolocalizáveis), em escolas e residência da própria vítima, visto que sua localização exata é um dado sigiloso e não foi fornecido pela SSP-SP. Foram consideradas as ocorrências em via pública, estabelecimentos comerciais, serviços, locais de lazer, escritórios, transportes, dentre outros.
Não é possível mapear as concentrações de vítimas atendidas pela Saúde, porque a localização exata das ocorrências também não é divulgada – só são publicados os dados agregados por distrito.
Áreas que concentram espaços de sociabilidade LGBTQIAPN+ coincidem com os focos de violência LGBTfóbica registradas pela Seg. Pública, como a Praça da República, Largo do Arouche e Rua Augusta.
Apesar de tais espaços configurarem territórios de sociabilidade, eles também significam riscos para pessoas LGBTQIAPN+: 55% dos B.O. são de ocorrências em via pública, sugerindo que o os percursos entre os locais de lazer, consumo, encontro, etc. não são atualmente seguros para essas pessoas.
Cabe ao poder público, ciente dessa dinâmica de interação entre “sociabilidade/violência”, a construção de estratégias que garantam o direito à cidade da população LGBTQIAPN+ em segurança.
dados da segurança pública
os distritos que concentram registros online de LGBTfobia contra vítimas do sexo feminino estão, em sua maioria, fora da região central da cidade
Os distritos onde houve mais ocorrências de LGBTfobia com vítimas do sexo feminino que registraram B.O. online são:
- Marsilac, 67%
- Parelheiros, 65%
- Socorro, 61%
- Cangaíba, 55%
- São Rafael, 53%
- Água Rasa, 53%
- Jd. Helena, 52%
- Vila Curuçá, 52%
- São Mateus, 51%
- Alto de Pinheiros, 50%
- Cursino, 50%
- Guaianases, 50%
- Jd. S. Luís, 50%
- Vila Matilde, 50%
- São Domingos, 50%
- Vila Formosa, 48%
- Moema, 48%
- Cidade Dutra, 48%
- Vila Medeiros, 47%
vítimas do sexo feminino são maioria em distritos de menor renda
As vítimas do sexo feminino são maioria nos distritos de menor renda, com 54% nos atendimentos da Saúde e 51% nos registros da Seg. Pública. No restante da cidade, vítimas do sexo feminino representam 42% e 44% respectivamente.
Os distritos com mais ocorrências de LGBTfobia atendidas pela Saúde com vítimas do sexo feminino são:
- Jaguara, 100%
- Pari, 100%
- Socorro, 100%
- Jardim Paulista, 100%
- Pedreira, 83%
- Rio Pequeno, 83%
- São Rafael, 81%
- Anhanguera, 80%
- Butantã, 80%
- Jaraguá, 75%
Os distritos com mais ocorrências de LGBTfobia registradas pela Seg. Pública com vítimas do sexo feminino são:
- São Mateus. 51%
- Vila Matilde, 70%
- Cangaíba, 68%
- Marsilac, 67%
- São Lucas, 66%
- Cambuci, 65%
- São Mateus, 65%
- São Miguel, 63%
- Guaianases, 63%
- Vila Formosa, 63%
- Carrão, 63%
dados da saúde
49% das vítimas de LGBTfobia sofreram violência em casa
dados da segurança pública
boletins de ocorrência captam mais as violências em espaços públicos
Os dados da Saúde demonstram que quase metade das vítimas foi agredida na própria residência (49%). Em seguida, a via pública é o principal local de ocorrência (20%). No entanto, ao considerar todos os espaços de convivência pública, como via pública, comércio e serviços, bares ou similares, o percentual passa a ser 27%.
Ao contrário dos dados da Saúde, a maioria das ocorrências registradas na Seg. Pública aconteceram na via pública (55% do total). Se forem somados todos os locais de fruição pública, como via pública, transportes, comércio e serviços, espaços de lazer e restaurantes, estes espaços passam a representar 70% de todos os B.O. – mais de dois terços.
Ocorrências na residência da própria vítima correspondem a 19% do total.
dados da saúde
sexo feminino é maioria dentre vítimas de viollência LGBTfóbica em casa
dados da segurança pública
em espaços públicos, vítimas do sexo masculino são maioria
Nos dois bancos de dados, a maioria das vítimas é identificada pelo sexo (sic) masculino: 52% nos dados da Saúde e 56% nos dados da Seg. Pública. Porém o perfil das vítimas varia de acordo com o local da ocorrência.
Na Saúde, das ocorrências em residências, predominam vítimas do sexo feminino (59% do total), de raça/cor da pele preta ou parda (53%) e 71% têm até 29 anos. Nas ocorrências em vias públicas, o perfil é diferente: 70% é do sexo masculino, 65% são pessoas negras.
Os dados da Seg. Pública revelam que as ocorrências na via pública têm maioria do sexo masculino (53%) e 46% têm até 29 anos. O perfil de vítimas de ocorrências nas residências também tem maioria de homens (60%) e 46% têm até 29 anos.
dados da segurança pública
ocorrências de LGBTfobia são mais violentas durante à noite e madrugada
36% das ocorrências registradas pela Seg. Pública ocorreram à noite ou na madrugada, mas 50% das vítimas até 29 anos sofreram ocorrências nesse período: noites e madrugadas parecem ser mais perigosas para jovens.
Ocorrências à noite e na madrugada são mais frequentes dentre as vítimas do sexo masculino: 38% dos homens foram vítimas de ocorrências entre as 18h e 6h, enquanto 33% das mulheres foram vítimas no mesmo período. 57% das ocorrências de lesão corporal aconteceram à noite ou na madrugada.
Locais de sociabilidade e diversão se destacam pela violência à noite e na madrugada: 73% das ocorrências em espaços de lazer (boates, cinemas, clubes, etc) e 50% das ocorrências em restaurantes e bares foram registradas entre 18h e 6h da manhã.59% das ocorrência registradas pela Segurança Pública ocorreram durante o dia (das 6h às 18h) e 5% não tiveram horário registrado.
A base de dados da Saúde não disponibiliza dias ou períodos do dia da ocorrência.
dados da saúde
45% das ocorrências LGBTfóbicas são resultantes de violências físicas, 29% psicológicas e 10% sexuais
dados da segurança pública
53% dos b.o. de LGBTfobia são registrados como injúria; 17% são ameaça e 10% lesão corporal
dados da saúde
55% das vítimas de violências LGBTfóbicas são negras
dados da segurança pública
subnotificação de dados sobre vítimas é um problema para analisar a LGBTfobia
Nos dados da Saúde, 55% das vítimas de violências LGBTfóbicas são negras, 41% são brancas, 1% são amarelas e 1% são indígenas. O dado é significativo quando comparado com a população negra da cidade de São Paulo, 43,5% do total da população da cidade (Censo, 2022).
Os registros de B.O. online, feitos pela Seg. Pública, têm facilitado o acesso à denúncia de ocorrências LGBTfóbicas, mas a ausência dos campos de raça/cor da pele no formulário da Delegacia Eletrônica impedem análises mais aprofundadas sobre os perfis de vítimas: 69% das vítimas não tiveram sua raça informada.
Entre 2015 e 2018, quando o B.O. eletrônico era menos utilizado: apenas 14% das vítimas não tiveram sua raça/cor da pele informada. Entre 2021 e 2023, período dominado pelas denúncias online, essa proporção subiu para 91%.
O problema é ainda mais grave, já que o B.O. online é a principal alternativa de denúncia para vítimas mulheres e vítimas de mais baixa renda.
O não preenchimento dos dados é pior no caso das vítimas mulheres: 79% não têm a raça/cor da pele informada – homens são 62%.
dados da saúde
61% das vítimas trans são negras
Quanto à orientação sexual, dentre bissexuais, metade das vítimas são brancas, 46% são negras. Das vítimas homossexuais (gay/lésbica), a distribuição por raça corresponde à média municipal, 55% são vítimas negras, 46% são brancas.
Dentro deste recorte, vítimas travestis têm participação ainda maior de pessoas negras, com 69%. Mulheres transexuais são 62% negras e homens transexuais são 56% negros (gráfico abaixo).
dados da saúde
79% das vítimas de LGBTfobia por agressores policiais são negras
Dentre os diferentes tipos de violência LGBTfóbica, os que tiveram maior proporção de vítimas negras foram casos de intervenção legal (100%), tortura (59%) e violência física (56%). Apenas em violência financeira, há predominância de vítimas brancas (55%).
Das vítimas cujos agressores foram policiais ou agentes da lei, 79% são pessoas negras, 63% são homens e 58% têm até 29 anos.
dados da saúde
sexo masculino, jovens e negros são maioria entre vítimas de violência física
dados da segurança pública
vítimas do sexo feminino são maioria em casos de importunação sexual, violência doméstica e homicídio
Nos dados da Saúde, dentre as vítimas de violência física, o local de ocorrência mais comum é a via pública (41% dos casos): 60% são homens, 56% são pessoas negras e 63% têm até 29 anos. No casos de violência psicológica, metade ocorre nas residências das vítimas. O perfil é composto por homens (52%), pessoas negras (51%) e pessoas jovens (70% têm idade até 29 anos). Vítimas de violência sexual apresentam um perfil diferente: 59% são do sexo feminino, 54% são pessoas negras e 81% possui idade até 29 anos. O local mais comum das ocorrências é nas casas das vítimas (44%).
Dentre as vítimas que registram B.O. classificados como injúria, a maioria é de homens (54%) e de pessoas até 29 anos (45%). Vítimas de ameaça também são predominantemente homens (64%), mas o principal grupo etário é de 30 a 49 anos (41%). Lesão corporal tem um perfil mais jovem e mais masculino: 60% têm até 29 anos e 67% são homens. Vítimas mulheres são maioria entre os tipos penais: importunação sexual (100%), violência doméstica (100%), homicídio (60%) e difamação (52%). Mulheres correspondem a 50% das vítimas de calúnia e estupro.
dados da saúde
60% das vítimas foram agredidas por familiares ou pessoas conhecidas
dados da segurança pública
vítimas do sexo feminino são mais agredidas por pessoas desonhecidas do que vítimas do sexo masculino
Dentre os registros da Saúde sobre violências cometidas na casa da própria vítima, 74% dos agressores foram identificados como parte do convívio familiar (tons de roxo no gráfico abaixo).
Agressores do convívio familiar também cometem violências em outros tipos de locais, indicando que, ainda que a violência tenha ocorrido fora de casa, o espaço de residência da vítima não é um local seguro.
Patrões e chefes agressores (verde escuro no gráfico abaixo) têm maior expressão em indústria ou construção (25% dos agressores) e nos comércios e serviços (10% dos agressores).
Nas escolas, 82% dos agressores são colegas e amigos da vítima.
Os registros de B.O. feitos pela Segurança Pública identificam apenas se a pessoa agressora é “conhecida” ou “desconhecida”. A maior parte das vítimas (71%) é agredida por uma pessoa desconhecida. A porcentagem é maior entre vítimas mulheres, 76%, enquanto 66% dos homens foram agredidos por pessoas desconhecidas.
dados da saúde
60% das vítimas de LGBTfobia atendidas têm até 19 anos
dados da segurança pública
apenas 8% das vítimas têm idade até 19 anos: falta de autonomia em denunciar pode ser causa
Segundo os dados da Saúde, o perfil das vítimas de até 19 anos é majoritariamente do sexo feminino (53%) e de raça/cor da pele preta ou parda (52%). Quase dois terços (65%) dessas violências ocorrem na própria residência.
32% dos agressores desse grupo etário são os próprios pais, 17% são amigos e conhecidos.
Ao contrário da média geral em que a violência física é o tipo mais frequente (45% do total), para vítimas de 19 anos a violência psicológica (31%) está empatada em primeiro lugar com violência física (31%), em sequência, a violência sexual (19%). Este grupo etário representa metade das violências ocorridas em escolas; se considerar o recorte até 24 anos, o grupo representa 75% das ocorrências em escolas.
Comparativamente a base da Saúde, os dados da Segurança Pública demonstram que o registro da violência sofrida por este grupo etário (até 19 anos) é menos acessível. No total de ocorrências registradas por B.O., apenas 8% das vítimas têm até 19 anos: 43% são do sexo feminino e 57% do sexo masculino. Isso revela que nem todas as violências LGBTfóbicas sofridas por vítimas de até 19 anos são notificadas à Polícia Civil, mesmo quando demandam atendimento de serviços de saúde.
dados da saúde
69% das vítimas de LGBTfobia atendidas têm até 29 anos
dados da segurança pública
46% das vítimas possui até 29 anos
A população até 29 anos corresponde a 32% da população municipal (Censo, 2022). As vítimas registradas pela Saúde são mais jovens do que as registradas pela Seg. Pública.
Nos registros de Saúde, vítimas negras são a maioria em todas as faixas etárias até 49 anos; acima de 50 anos não há uma grande diferenciação entre negros e brancos (gráfico abaixo).
Nos dados da Seg. Pública vítimas do sexo masculino são mais jovens do que as do sexo feminino: 48% dos homens possui até 29 anos, enquanto dentre as mulheres dessa faixa etária são 44%. Nos dados da Saúde, entretanto, não há diferença.
a produção dos dados sobre violências LGBTfóbicas na linha do tempo
dados da saúde
a violência LGBTfóbica cresceu 970% desde 2015 nas ontificações de Saúde
dados da segurança pública
aumentaram 15 vezes as ocorrências LGBTfóbicas entre 2015 e 2022
Entre 2015 e 2023, houve um aumento de 970% do total de notificações de “homofobia/ lesbofobia/ transfobia” na Saúde. No mesmo período, o crescimento de notificações de vítimas brancas foi de 840%, enquanto o de vítimas negras foi de 1.441%.
Ao contrário das informações da Saúde, nos dados da Segurança Pública, a notificação (ou o registro) da raça/cor da pele das vítimas perdeu qualidade, impossibilitando a leitura do perfil racial de quem sofre LGBTfobia e denuncia via B.O.
Dentre as vítimas de casos registrados por Boletins de Ocorrência, o crescimento foi de 1.424% entre 2015 (primeiro ano em que “homofobia/transfobia” passou a ser utilizado como categoria de intolerância) e 2022. A aparente queda em 2023 não pode ser confirmada como uma redução das ocorrências, visto que os dados mais recentes demoram para ser consolidados. Consultas futuras a dados serão necessárias.
dados da segurança pública
aumento dos registros tem relação com a melhora do acesso a canais de denúncia
O crescimento expressivo dos B.O. de LGBTfobia registrados pela Seg. Pública provavelmente está relacionado à implementação do B.O. eletrônico, que permite o registro online da ocorrência, dispensando a ida até uma delegacia e melhorando o registro das violências.
Em 2021, quando houve maior incremento anual de denúncias – 71% em relação a 2020 – os B.O. online cresceram 105%, representando 8 em cada 10 denúncias de LGBTfobia naquele ano.
Este padrão de crescimento das ocorrências sugere que os números de anos anteriores são reflexo da subnotificação das denúncias de violências, possivelmente, provocada pela falta de acesso aos canais de denúncia.
A melhora do acesso a canais de denúncia de violências LGBTfóbicas possibilitou um aumento de registros feitos por mulheres: dentre os registros online, elas são 51% (homens são 49%), enquanto nos registros presenciais, são apenas 32% (homens 65%).
O B.O. online corresponde a 82% das denúncias de “homofobia/transfobia” ocorridas nos distritos de menor renda da capital paulista. Já nos distritos de maior renda, corresponde a 72% do total. A diferença de 10 p.p. sugere que a delegacia eletrônica também favorece o acesso à denúncia para áreas de menor renda.
dados da saúde
1/3 das vítimas de LGBTfobia não tiveram sua identidade de gênero ou orientação sexual identificadas
dados da segurança pública
os dados da Seg. pública não registram orientação sexual e identidade de gênero das vítimas de LGBTfobia
67% das vítimas de violências LGBTfóbicas registradas pelos dados da Saúde tiveram sua identidade de gênero e/ou sua orientação sexual identificadas, respectivamente, como transsexuais (independente da orientação sexual) homossexuais e/ou bissexuais (independente de sua identidade de gênero).
As categorias de identidade de gênero são: “travesti”, “homem transexual” e “mulher transexual”. Não existem outras categorias como pessoas não-binárias, intersexuais, homens cis, mulheres cis, etc.
A categorização da orientação sexual também é limitada, identificando apenas: “homossexuais (gay/lésbica)”, “bissexuais” e “heterossexuais”.
Não foram consideradas vítimas com idade menor ou igual a 10 anos, visto que, nesses casos, o sistema preenche automaticamente o campo de identidade de gênero e de orientação sexual como “não se aplica”.
Homossexuais (gay/lésbica) são 37% do total de vítimas, sendo ⅔ do sexo masculino.
8% são bissexuais, em que 54% é do sexo feminino.
Quanto à identidade de gênero, pessoas trans e travestis representam 41% do total: dentre estas, 53% são mulheres transexuais, 35% são homens transexuais e 12% são travestis.
síntese das leituras
dados da saúde
quem sofre
- A maioria das vítimas é do sexo masculino, mas mulheres são a maior parte das vítimas dentro da própria residência, 59%, e em distritos de menor renda, 54%.
- 55% das vítimas totais não negras: mais do que a porcentagem geral da cidade de S. Paulo (43%)
- Bissexuais correpondem a 8% do total de vítimas, sendo que 46% delas são negras e 54% do sexo feminino.
- Das vítimas homossexuais (gay/lésbica) que representam 37% das vítimas, 2/3 são do sexo masculino.
- Vítimas travestis têm maior proporção de pessoas negras, 69%.
- As vítimas registradas pela Saúde são mais jovens do que as registradas pela Seg. Pública: 69% das vítimas atendidas pela Saúde têm até 29 anos, quanto o mesmo grupo etário corresponde a 46% dos B.O.
quem agride
- Dentre as violências cometidas na casa da própria vítima, 74% dos agressores foram identificados como parte do convívio familiar.
- Das vítimas cujos agressores foram policiais ou agentes da lei, 79% são pessoas negras, 63% são homens e 58% têm até 29 anos.
onde acontece
- Quase a metade dos atendimentos da Saúde (49%) são casos onde a violência ocorreu dentro da própria residência, demonstrando que para este grupo as violências acontecem onde as vítimas deveriam estar protegidas.
- 74% dos agressores foram identificados como parte do convívio familiar. Nas escolas, 82% dos agressores são colegas e amigos da vítima.
- Vítimas de LGBTfobia atendidas pela Saúde se concentram principalmente em distritos periféricos.
quais violências
- Violências físicas, psicológicas e suxuais são a maior parte dos atendimentos: 84%.
- Dentre os diferentes tipos de violência LGBTfóbica, os que tiveram maior proporção de vítimas negras foram casos de intervenção legal (100%), tortura (59%) e violência física (56%).
dados da segurança pública
quem
- Os homens são a maior parte das vítimas de LGBTfobia (56%). Entretanto, nos distritos com menores rendas as mulheres são a maioria: 51% Em Marsilac, Parelheiros e Socorro, por exemplo, mais de 60% das vítimas é do sexo (sic) feminino.
onde
- Mais de dois terços das ocorrências de LGBTfobia registradas por B.O. (70%) ocorreram em espaços públicos (vias, transportes, praças, parques) ou estabelecimentos de uso público (espaços de lazer, restaurantes, bares):
- Na via pública, 53% das vítimas é do sexo masculino e 46% têm até 29 anos.
- As ocorrências registradas pela Seg. Pública possuem um padrão mais central na cidade em relação aos registros da Saúde. Locais de sociabilidade, encontro, consumo configuram territorialidades LGBTQIAPN+, mas também implicam risco a violências.
quando
- 59% das ocorrência registradas pela Segurança Pública ocorreram das 6h da manhã às 18h da tarde: a violência LGBTfóbica não se resume às agressões noturnas e acontecem em cenas cotidianas nas ruas, nos transportes, no trabalho, e estabelecimentos de comércio e serviços à luz do dia.
- As ocorrências à noite e madrugada correspondem às violências mais graves. 57% das ocorrências de lesão corporal aconteceram à noite ou na madrugada.
quais crimes
- Injúria ameaça e lesão corporal conformam a maior parte dos Boletins de Ocorrência: 53%, 17% e 10% respectivamente.
avanções e necessidade de melhorias
- Os registros de B.O. online têm facilitado o acesso à denúncia, principalmente entre vítimas mulheres: dentre os registros online, elas são 51% (homens são 49%), enquanto nos registros presenciais, são apenas 32% (homens 65%).
- A altíssima subnotificação de dados sobre raça nos registos da Segurança Pública é um problema decorrente da não existência de campo adequado para o preenchimento dessa informação justamente nos B.O. feitos online.
Baixe o estudo completo e confira as outras atividades promovidas pelo projeto Territorialidades LGBTQIAPN+ na cidade de São Paulo.
equipe
coordenação geral
Rodrigo Faria. G. Iacovini
coordenação de pesquisa
Vitor Coelho Nisida
equipe de pesquisa
Lara Cavalcante
Isabella Alho
Cássia Caneco
Sarah Esli
Bárbara Montalva
comunicação
Bianca Alcântara
Inara Novaes
Júlia dos Santos de Pádua
diretoria executiva (2023-2026)
Cássia Gomes da Silva
Henrique Botelho Frota
Rodrigo Faria G. Iacovini