conheça os diferentes tipos de agricultura
Ao se falar de sistemas de produção de alimentos, há muitos conceitos que são utilizados que podem causar confusão: agricultura orgânica, ecológica, biodinâmica, sintrópica, permacultura e outros, apesar de possuírem princípios comuns, quais as diferenças? É importante conhecer o que é proposto por esses diversos conceitos para compreender como contribuem para a agricultura de forma geral. Há muitas convergências e similaridades entre eles, mas suas origens têm raízes diferentes.
A agricultura orgânica surgiu na década de 1940 com os trabalhos do inglês Sir Albert Howard e do americano J. I. Rodale. De forma geral, os autores teceram críticas à agricultura industrial, que promovia a utilização de agrotóxicos e fertilizantes químicos para aumentar a produção agrícola no pós-guerra. Esses autores todos buscavam apresentar seus estudos sobre técnicas agrícolas que se utilizavam principalmente de insumos orgânicos para a produção, como esterco, composto e pó de rocha, além de técnicas como rotação de culturas e adubação verde. A difusão do movimento orgânico pelo mundo fez aumentar os interesses econômicos nessa forma de produção, atraindo empresários que encaram a prática como um lucrativo negócio. A agricultura orgânica, quando não (agro)ecológica, muitas vezes se assemelha a agricultura convencional, porém com insumos orgânicos em vez de sintéticos.
No Brasil, outro conceito bastante usado é o da agricultura ecológica, proposto por grandes cientistas e ativistas, como José Lutzenberger e Ana Primavesi, que desenvolveram uma perspectiva mais ecológica da agricultura, relacionando-a a fluxos e processos naturais dos ecossistemas. Especialmente Ana Primavesi é considerada uma das maiores referências brasileiras e mundiais no que diz respeito à ecologia agrícola em solos tropicais, fundamentando as bases da agricultura ecológica em desenhos agrícolas integrados, manejo racional de solos e menos restrição ao uso de insumos do que as correntes da agricultura orgânica e biológica.
A agricultura biodinâmica, por sua vez, surge na Alemanha por meio dos trabalhos de Rudolf Steiner, que aplica os conhecimentos da Antroposofia na agricultura desde 1920. Por se tratar de uma filosofia mais ampla, a agricultura biodinâmica sempre esteve conectada com outras diversas áreas do conhecimento humano, como a pedagogia, a medicina, a economia e outras que foram objeto da Antroposofia. Essa área de conhecimento busca desenvolver técnicas agrícolas que trabalham com energias mais sutis de produção, como a observação das influências cósmicas nas plantas, elaboração de calendário lunar de plantio e criação de preparados que fortalecem as plantas e os processos produtivos.
A permacultura também é bastante difundida enquanto um conjunto de técnicas para constituição de assentamentos humanos sustentáveis. Esse conceito foi criado na Austrália por Bill Mollison e David Holmgren e abarca não apenas questões relacionadas à agricultura mas a várias dimensões da promoção de assentamentos humanos, como moradia, economia, saneamento entre outros. Dentro dessas perspectivas, são propostas bioconstrução, economia solidária, comunicação não-violenta, saneamento ecológico entre outros aspectos da vida humana.
Por fim, a agricultura sintrópica foi desenvolvida por Ernst Gotsch, um suíço radicado no Brasil, que busca observar processos naturais e traduzi-los para as práticas agrícolas tanto em sua forma, quanto em sua função e dinâmica. Muito da prática se baseia em conceitos termodinâmicos como a entropia e processos ecológico, como a sucessão ecológica e “imitação” dos estratos das florestas no plantio agrícola. O foco trazido pela agricultura sintrópica é na concentração de energia dentro do sistema produtivo, desenvolvendo uma agricultura de processos, não de insumos. Alguns referem-se aos sistemas sintrópicos como agroflorestas sucessionais biodiversas.
Como é possível ver, todos esses conceitos possuem inúmeras similaridades e sua diferenciação é muito mais focada nas origens dos termos e nas perspectivas que os rodeiam do que de fato nas práticas agrícolas. É nesse movimento pela agricultura alternativa e de base ecológica surge a agroecologia, com um enfoque científico, capaz de dar suporte para uma transição a estilos de agriculturas mais sustentáveis e contribuir para o desenvolvimento rural sustentável.
Não devemos confundir uma agricultura que não utiliza agrotóxicos ou fertilizantes químicos (conhecida, muitas vezes como orgânica) com agroecologia. Uma agricultura sem veneno poderia, por exemplo, se estruturar por um viés mercadológico, que visa atender um nicho de consumidores preocupados com os impactos dos agrotóxicos e dispostos a pagar altos valores por produtos “orgânicos”. Chamamos essas práticas muitas vezes, de agricultura orgânica convencional. Essas agriculturas não são necessariamente sustentáveis e não se apoiam em mudanças sociais por parte dos agricultores ou dos consumidores, reproduzindo, em muitos casos, a mesma estrutura social de uma agricultura industrial com alta dependência de insumos externos, ainda que orgânicos. Por isso, a agroecologia possui maior amplitude, uma vez que pressupõe, enquanto movimento social e político, mudanças estruturais em outras esferas para além da produção agrícola propriamente dita, envolvendo aspectos culturais, políticos e econômicos.