#8M: A luta das mulheres é cotidiana
Mulheres de São Paulo se unem no Dia Internacional de Luta das Mulheres contra retrocessos e por mais direitos
Por Caroline Oliveira*
O dia 8 de março, Dia Internacional de Luta das Mulheres, é um momento para lembrar-se da luta do movimento feminista na conquista de direitos e alertar para os diversos direitos que ainda não foram efetivados. Neste dia, mulheres de várias regiões de São Paulo se reuniram na praça da Sé para seguir em marcha contra o machismo e, inclusive, contra a Reforma da Previdência. A manifestação começou às 15h e seguiu pelo Viaduto do Chá em direção à Prefeitura de São Paulo. O ato reverbera o movimento global #8M, uma greve de mulheres convocada em quase 5o países, apoiada por feministas como Angela Davis e Nancy Fraser.
No Brasil, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma mulher é estuprada a cada 11 minutos. A estimativa é de que em 2015 podem ter acontecido até 454,6 mil estupros. Um feminicídio por hora. Em 2013, chegamos a quase 5 mil mulheres assassinadas, de acordo com o Mapa da Violência Contra a Mulher 2015. Matamos 48 vezes mais do que Reino Unido, 24 vezes mais do que Irlanda ou Dinamarca e 16 vezes mais do que Japão ou Escócia. Ficamos atrás apenas de El Salvador, Colômbia, Guatemala e Federação Russa. Quando falamos de mulheres negras, os números aumentam drasticamente. Entre 2003 e 2013, a taxa de homicídios de mulheres brancas diminuiu aproximadamente 10%, enquanto a taxa de homicídios de mulheres negras continuou subindo, batendo a taxa de 54,2%.
O que existe é uma tolerância social aos assassinatos diários dessas mulheres. A Lei do Feminicídio, sancionada somente em 2015, reflete o atraso com que o Estado aceitou, graças à pressão dos movimentos feministas, a caracterizar o homicídio de mulheres como um crime relacionado à questão de gênero. Ainda assim, tais mortes são frequentemente veiculadas de maneira equivocada, retratadas como crimes passionais. A violência contra a mulher tem gênero, cor e aval da sociedade, que se revela estruturalmente machista.
No Brasil, existem apenas 1.474 Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher, num total de 5.570 municípios, segundo a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Apesar de ser a maioria da população brasileira, as mulheres estão sub-representadas no Congresso Nacional: são apenas 13 senadoras num total de 81 e 45 deputadas federais num total de 513.
Para Sâmia Bomfim, vereadora de São Paulo pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), que estava na manifestação do dia 8, no Brasil não faltam motivos para existirem milhões de mulheres levantando a agenda histórica do movimento feminista.
“Eu estou aqui hoje pela minha irmã, pela minha mãe, pela minha avó, por todas as mulheres, porque eu acredito que tem que cair a pornografia, que tem que ser legalizado o aborto, porque as mulheres têm que parar de ser vítima a cada 3 minutos”, afirmou Marjorie Marcelino, de 30 anos, quando questionada quais motivos a levaram a se juntar a outras mulheres neste dia.
Ana Laura, de 62 anos, também fez questão de dizer que o dia 8 é a hora de lembrar que a luta das mulheres é cotidiana. “Nós podemos buscar união entre diferentes grupos de mulheres para brigar por mais equidade. Dá energia ver outras militantes na mesma onda”, destacou a senhora que se afirma feminista desde que nasceu.
Daniela Beraha, de 39 anos, estava com a filha e a levou porque “é importante que ela participe da luta desde pequena”. Já para Marjorie Marcelino, ainda é preciso que no dia 8 de março, a sociedade reflita sobre quais são as circunstâncias que as mulheres passam.
No Brasil, enquanto o presidente Michel Temer, em seu discurso do dia 8 de Março, reduzia o papel das mulheres à casa, manifestações foram organizadas em pelo menos 70 cidades. Em âmbito internacional, países como Polônia, Índia, Paquistão, Argentina, Itália e Espanha também registraram manifestações.
*Caroline Oliveira é integrante da equipe de Comunicação do Instituto Pólis