três perguntas para o coletivo @ascidadelas
A luta pelo direito à cidade está em constante transformação e disputa. Este mês, vamos conversar com organizações e coletivos que atuam, cada um a sua maneira, por cidades mais justas.
coletivo ascidadelas
Fundado em 2018 e formado por Claudia Ratti (jornalista), Beatriz Santoro (jornalista), Isadora Pinheiro (designer e ilustradora) e Nathalia Parra (designer e artista têxtil), o coletivo busca repensar a cidade a partir de um olhar interseccional, plural e de saberes não convencionais.
Confira nossa conversa:
Vocês se propõem a repensar a cidade a partir de um olhar “interseccional, plural e de saberes não convencionais”. O que isso significa? Como surgiu a ideia do coletivo?
Olhar a cidade a partir de um olhar interseccional e plural significa entender que o território não é igual para todos, ou seja, a vivência na cidade é diferente conforme a sua raça, classe, gênero, orientação sexual e idade, por exemplo. Entender isso é fundamental para compreender de que forma as relações acontecem na cidade e isso é importante para identificar falhas e pensar soluções para uma cidade melhor.
Buscar saberes não convencionais significa dialogar com narrativas que são desconsideradas pelo pensamento branco eurocêntrico. No Cidadelas, construímos um olhar a partir de perspectivas das que sofrem com as exclusões e resgatamos os afetos, pois neles habitam potências de transformação do mundo.
A ideia do coletivo surgiu a partir da necessidade de consolidar um trabalho que começou no nosso projeto de conclusão de curso da faculdade de jornalismo no final de 2017, onde traçamos um panorama da relação das mulheres com a cidade de São Paulo.
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Qual é a cidade do futuro que vocês sonham para as mulheres?
Ao falarmos em futuro, não podemos deixar de olhar para o passado. Ao resgatar conhecimentos, descobrimos valores e possibilidades de estar no mundo alternativas às narrativas hegemônicas. Nesse sentido, a cidade do futuro perpassa necessariamente por uma transformação do modo de organizar a vida. Olhar para as necessidades das mulheres, sobretudo negras e periféricas, é um caminho para emergir uma cidade alinhada à emancipação social. Territórios pensados a partir das necessidades locais, valores como partilha e cooperação, poder caminhar sem medo, sem violências e sem impeditivos para transitar são algumas características daquilo que almejamos enquanto cidades do futuro.
Qual livro vocês indicam para quem se interessa por direito à cidade?
Becos da Memória, de Conceição Evaristo. Gostamos de recomendar esse livro porque ele dialoga com um dos pilares do nosso trabalho: saberes não convencionais. Ao resgatar suas memórias da infância em uma favela de Belo Horizonte, a autora revela uma cidade a partir das percepções de uma criança sobre o espaço. Considerar essa vivência, essa experiências pessoal e afetiva, é interessante para entender de que forma se constrói a relação das pessoas com a cidade.