Célio Turino conversa com jovens monitores/as sobre dimensão cidadã da cultura
O historiador, gestor cultural e escritor Célio Turino esteve na formação teórica do Programa Jovem Monitor/a Cultural (PJMC) do dia 27 de abril para contar muitas histórias e trocar experiências. Criador do Programa Cultura Viva, Turino conversou sobre direito à cultura, dimensão cidadã e a gestão transformadora da cultura.
Célio falou da importância das raízes não serem perdidas e citou como exemplo o uso das plantas medicinais e remédios caseiros utilizados antigamente pelos pajés e antepassados, além do conhecimento e tradição dos velhos contadores de histórias, os griôs. “Vamos perdendo nossas raízes, nosso fio da história. Acabamos dentro de um labirinto sem saber para onde vamos. Um pouco a fase que estamos vivendo hoje no Brasil. A busca é tentar achar o nosso fio da história para construir outras legitimidades.”
Para ele, todas as pessoas não apenas consomem cultura, mas também a produzem. Turino ainda afirma que o entendimento de cultura e meio ambiente se faz necessário para nos localizarmos melhor no mundo. “Cultura é a mescla entre o ser humano e a natureza, porque somos parte da natureza”.
“A cultura é o principal instrumento de libertação e o maior de dominação”, comentou Turino. Para ele, a cultura não é compreendida, pois aprendemos que a ação é o que determina as coisas para fora do pensamento. “O campo dos valores foram suplantados assim. Mas quando esse campo fica vazio, quando não há a luta de ideias e valores, você absorve os valores dominantes”.
Após os relatos, Célio Turino iniciou um bate papo com os/as jovens, onde puderam trocar experiências e reflexões. Ele buscou conhecer a vivência dos/as monitores/as nos territórios. Para a jovem monitora Ana Paula Silva de Oliveira, que atua no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes (CFCCT), o público da região começou a se formar com a atuação dos/as jovens no espaço. “Divulgamos todas as atividades e realmente a construção e formação do público está acontecendo agora. Notamos essa diferença. E isso aconteceu com a chegada dos jovens monitores.”
O jovem monitor Elias Gehrti, que atua no teatro Zanoni Ferrite, contou que a chegada do PJMC no equipamento também fez com que o número de frequentadores aumentasse. “Lá no Zanoni temos um problema grande de público. Com os jovens monitores, esse público está crescendo. No começo de domingo tínhamos de 20 a 30 pessoas. Hoje em dia, temos de 50 pra mais”, explica.
Célio Turno disse que os/as jovens monitores/as são intelectuais orgânicos, pois são da região em que atuam, possibilitando o elo entre a comunidade e o equipamento cultural. “Já viram um lago congelado? De repente o gelo desaparece. Fez tanta fissura que em algum momento a camada de gelo cede. O que o jovem monitor tem que fazer? Jogar pedrinhas no sistema”.
Orçamento público e experiência em Moçambique
No período da tarde, os/as monitores/as participaram de uma atividade em que planejaram orçamentos baseados em algumas situações cotidianas para poderem aproximá-las ao orçamento público.
Essa aproximação foi realizada pelo assessor de formação do PJMC no Instituto Pólis, Altair Moreira, que afirmou que o orçamento público é uma ação importante do planejamento das instituições públicas e que retrata o universo das decisões políticas para o Município, Estado e a Federação.
“O orçamento é um instrumento de corresponsabilidades. A sua apreciação e aprovação são realizadas pelas câmaras legislativas. E no momento político que estamos passando, essas apreciações e negociações também o coloca como um instrumento de governabilidade”, afirma.
Também foi abordado como se dá a gestão de um orçamento público, seu acompanhamento e execução pelas Secretarias e pelo Executivo. “Mostrei quais são os perfis das verbas públicas e seus papéis dentro do orçamento público”.
Altair conversou com os/as jovens sobre experiências públicas de construção de um orçamento mais democrático, citando como exemplo o orçamento participativo, suas experiências, seus sucessos e seus desgastes.
“Falei da importância dos Conselhos de Cultura e a importância da transversalidade das políticas publicas, não só para alargar processos culturais nos territórios, mas também para se ter uma nova forma de construção de um outro tipo o orçamento público para a cultura”.
No mesmo dia, a jovem monitora Luciara Ribeiro compartilhou suas experiências do projeto “Residência Artística Avizinhações: São Paulo – Maputo”, no qual participou através do edital “Conexões Cultura Brasil Intercâmbios nº1/2014”, do Ministério da Cultura.
Luciara visitou por 20 dias espaços culturais da cidade de Maputo, em Moçambique, a fim de mapear as artes da região através de pesquisa com foco em patrimônio material. Localizado na costa sudeste do continente africano, Moçambique conta com uma população de 27 milhões de habitantes. Possui aproximadamente 40 anos de independência da colonização portuguesa, por isso a língua oficial do país é o português.
Ela destacou a experiência intercultural vivida, chamando a atenção ao fato de serem muito pouco conhecidas as realidades dos países africanos e o imaginário sociocultural e econômico que foi se criando.
Segundo ela, há muitos brasileiros no país que trabalham em multinacionais, ONGs e missões evangélicas, que acabam oprimindo culturalmente o país. Outro ponto apresentado foram os conflitos sociais, como a forte presença de indianos-moçambicanos. Luciara diz que há relações de poder cultivadas por um pensamento de base colonial entre algumas relações comerciais e mercadológicas entre moçambicanos e estrangeiros.
Para Luciara, a viagem serviu para repensar seu cotidiano. Ela explicou que o continente é imenso e que é “perigoso” pensar a África como algo único. Para isso, é preciso desconstruir as ideias preconcebidas. “Chegar a Maputo foi um novo mundo”.
Crédito da foto: Carlos G.off