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Por uma Cultura de Paz e o direito à dignidade humana

11/06/2013
No 105º encontro do Comitê da Cultura de Paz, organizado pela Unesco em parceria com a Associação Palas Athena, a Profº Dra Luciene Lucas dos Santos falou sobre “os impactos do modelo de desenvolvimento na dignidade humana: interculturalidade e construção de novas sociabilidades como antídoto à violência estrutural”, às dezenas de pessoas que ocupavam as cadeiras do Auditório do MASP, enquanto as vias da Avenida Paulista eram ocupadas por manifestantes que reivindicavam o direito à cidade.
Durante a sua fala, Luciane buscou trazer a compreensão do achatamento e da necessidade de resignificar a violência, compreendê-la de maneira ampla e nos seus diversos contextos sociais, linguísticos e midiáticos. De acordo com a professora, mesmo a cultura de paz deve ser repensada, saber de que paz e qual é a paz possível para o mundo nos dias atuais, estabelecendo novas relações com o consumo, com os modelos de desenvolvimento, com a diversidade étnica e evocar a dignidade humana.
os: Assoc. Palas Athena
Ao longo do encontro, a professora apresentou dados que chocaram o público: “atualmente, existem mais de 100 projetos de lei antiindígenas no Congresso. 43664 mulheres mortas por violência doméstica no mundo. Vivemos um momento de ameaça aos direitos constituídos e as leis são um compêndio de violência regimentada”.
Para Luciene, a pergunta que se deve fazer e encontrar ações que a respondam é “como se cria a solidariedade num ambiente hostil? É importante saber que dentro das diferenças existem diferenças”. No caminho da construção e expansão da cultura de paz, a professora destacou que criar espaços que legitimem e respeitem a diversidade é um dos instrumentos para se transformar o paradigma das relações violentas institucionalizadas. “Não se pode achar que a luta é mesma, deve-se levar em conta os contextos”.
De acordo com Luciene, a evocação da cultura de paz não se deve passar por cima das dívidas históricas. “Quando foram promulgados os direitos humanos, os indígenas, os muçulmanos, os africanos e diversos outros grupos sociais hoje discriminados e com os direitos violados, não estavam representados”. Segundo Luciene,  a criação de políticas de ações afirmativas é um caminho para diminuir a dívida histórica, de permitir que os grupos emudecidos ganhem voz e pertencimento.
Seguindo a temática do encontro, Luciene destacou que a reinvenção do consumo é um dos principais eixos para romper com as relações violentas. “As relações comerciais geram uma violência estrutural, silenciosa. Estamos nos desenvolvendo mas, qual é o modelo de desenvolvimento que estamos seguindo?”.
A professora destacou quatros eixos norteadores à perspectiva de se estabelecer novos parâmetros para o consumo e relações simbólicas:
– cosmopolitismo subalterno: reunião das minorias
– espaços de tradução inter-cultural que fomente o inter-conhecimento, o inter-diálogo
– tornar contemporâneo o pensamento residual, restituindo os tecidos sociais
– desmontar a privatização das cidades
Encerrando o encontro, a professora destacou que um dos principais espaços para novas relações de consumo são os pontos de economia solidária, de troca e economia criativa. “Quando eu deixo de consumir o produto e estabeleço conexão com a história dele, eu legítimo sua existência ao reconhecer o outro. Crio relações mais dignas e mais humanas”.
Para conhecer o trabalho de Luciene: http://monoculturadoconsumo.blogspot.com.br/