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Um dia na cooperativa

24/05/2016

A primeira vez dentro de uma cooperativa é  tão impactante que te faz pensar na contribuição dos catadores, na cultura de consumo e em nosso estilo de vida

por Victória Risso*

Fui à Coopamare – Cooperativa dos Catadores Autônomos de Papel, Aparas e Materiais Reaproveitáveis,  em São Paulo, junto com alguns colegas, para o “Dia das Boas Ações”, movimento que ocorreu em 70 países simultaneamente no dia 2 de abril.

Ao chegar na cooperativa colocamos nossas etiquetas com nossos nomes na blusa e formamos uma roda para conhecer a história do local, contada pela Dulce, catadora e diretora da primeira cooperativa de catadores do Brasil, fundada em 1989.

Em seguida, fizemos uma atividade de integração e logo fomos divididos em grupos de trabalho para realizarmos atividades que são rotina para os catadores. Os grupos foram divididos em Triagem, Organização (limpeza da área), Pintura e Alagamento. Para que todos pudessem ter uma experiência completa, os grupos alternaram as funções após o almoço.

Eu comecei no Grupo de Organização, no qual limpamos a área onde cai muita água da chuva, molhando o material e fazendo com que eles estraguem, além de alagar. Não foi fácil vivenciar o desafio de organizar uma quantidade de impressionante materiais.

O Grupo de Triagem foi onde trabalhei na segunda parte do dia. Descobrimos parte da vida de uma pessoa triando seus resíduos. Encontramos materiais que não sabíamos que não era passível de ser reciclado, como um rolo de negativos de fotos, aquele plástico que envolve o saquinho de chá, pastas plásticas de documentos, dentre outros. Além de nos depararmos com materiais que obviamente não eram recicláveis (como fralda usada), fomos surpreendidos por potes de vidros sujos, quebrados. Não é por que você descarta os materiais hoje que amanhã eles serão separados. A montanha de sacos plásticos na cooperativa é muito grande, daí a importância de enxaguar os materiais antes de reciclar.

Como estudante de Gestão Ambiental e estagiária na Aliança Resíduo Zero Brasil, achava que conhecia as dificuldades, quais materiais podem ser reciclados, enfim, acreditava que já tinha um volume grande de conhecimento sobre o assunto. No final você percebe que não é bem assim. Todos deveriam passar por experiências deste tipo para repensar, tanto o meio ambiente quanto os catadores. Eles são os nossos reais agentes ambientais, dedicados e capacitados (a final, eu não conseguiria separar e distinguir tantos tipos de papéis e de plásticos) para realizar esta atividade e merecem o reconhecimento da sociedade e melhores condições de trabalho e remuneração, hoje responsabilidade do setor empresarial.

Se posso dar dicas práticas a quem lê e quer colaborar para um país mais justo e menos poluidor, aqui vão algumas: separe os resíduos que gera, de preferência separando orgânico (para compostagem, se puder), rejeitos e recicláveis; faça uma pré lavagem dos recicláveis; não consuma produtos com resíduos não recicláveis ou com reciclagem limitada, como os que já citei e outros como isopor, cápsulas de café expresso e bebidas “de caixinha”; dê prioridade a alimentos não processados; e, por último, mas não menos importante, atente-se à cadeia de produção e destinação de resíduos, valorizando os profissionais que dão o direcionamento correto ao que descartamos.

A Coopamare

O grupo de catadores começou realizando discussões no Centro Comunitário dos Sofredores de Rua, no bairro do Glicério. Em 1986, constituíram a Associação de Catadores de Papel. Apenas em 1989 que a prefeitura cedeu a eles o espaço sob o viaduto Paulo VI, em Pinheiros, e então formaram a Cooperativa. Nesse mesmo ano foi promulgado o decreto municipal que reconhece o trabalho do catador como atividade profissional e garante o direito ao trabalho.

 * Victoria Risso é estudante de Gestão Ambiental da USP e estagiária da Aliança Resíduo Zero Brasil