Manifestações culturais e ocupações dos espaços públicos são abordadas em formação realizada na Penha
Localizado na zona leste de São Paulo, o distrito da Penha de França abriga muitas histórias e culturas. Foi lá onde ocorreu, no dia 23 de fevereiro, a formação teórica do Programa Jovem Monitor Cultural (PJMC), desenvolvida pelo Instituto Pólis. Os/as jovens visitaram diversos pontos importantes para a história do bairro e puderam discutir questões como manifestações culturais, ocupações criativas dos espaços públicos e interfaces territoriais na experiência das juventudes de São Paulo.
Participaram da atividade José Morelli, curador do Memorial Penha de França, Patrícia Freire, produtora cultural e arte-educadora do Movimento Cultural Penha, o arte-educador Ezio Rosa, membro co-fundador do coletivo Ijó Lewá e integrante do corpo de baile do bloco afro Ilú Obá de Min, e a atriz, produtora e diretora do Centro Cultural da Penha (CCP) Teca Spera.
Situado no número 20 do Largo do Rosário, o CCP é um equipamento público de cultura vinculado ao Departamento de Expansão Cultural (DEC), da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de São Paulo. No período da manhã os/as jovens puderam conhecê-lo através de uma visita monitorada desenvolvida pelos/as próprios/as monitores/as do centro cultural, percorrendo os espaços Teatro Martins Penna, a Biblioteca José Paulo Paes, o espaço cultural Mário Zan e o estúdio de gravação Itamar Assumpção.
“As/os jovens monitores do Centro Cultural da Penha realizaram a produção e programação do dia. Prepararam o acolhimento, a ambientação e as visitas com empenho e dedicação. Foi tudo muito bom”, opina Martha Lemos, coordenadora pedagógica do PJMC no Instituto Pólis.
Em seguida os/as jovens caminharam pela região, conhecendo o Memorial da Penha, a Basílica de Nossa Senhora da Penha e a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.
Manifestações culturais e ocupações dos espaços públicos
O Memorial Penha de França, localizado na Rua Betari, abriga atualmente um grande acervo fotográfico sobre o bairro. O arte-educador Francisco Folco, conselheiro e curador do Memorial, esteve presente no local e conversou com os jovens sobre a ocupação dos espaços públicos da cidade. Para ele, espaços como as praças, por exemplo, devem ser ocupados pela população.
“Sou de uma época em que nosso Facebook era a praça. Não se faz mais praça pra gente se encontrar, seja bairro de rico ou pobre. Transformam as ruas para os automóveis, não há mais dignidade pra se andar à pé”, afirma.
Para José Morelli, também curador do Memorial, é necessário que os equipamentos culturais dialoguem com a região em que estão situados. “Vale a pena estar totalmente aberto para reproduzir um pouco daquilo que acontece no bairro para que vocês [jovens monitores/as] entrem em sintonia com ele. O máximo que puderem, sem preconceitos para essa abertura”.
Outro ponto destacado por Morelli foi a formação pré-história da Penha. Ele cita que, em 2004, arqueólogos do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) encontraram peças indígenas no centro do bairro.
“A referência à pré-história é relevante que seja levada em consideração pelos/as monitores/as. As peculiaridades das histórias é que dão sabores diferentes aos lugares”, acrescenta.
Já o Movimento Cultural Penha surgiu na década de 80 junto a movimentos culturais e populares da região e em 2001 tornou-se uma Organização não Governamental. Para Patrícia Freire, integrante do Movimento, existe uma grande responsabilidade em se representar um equipamento público de cultura.
“Os locais, as pessoas que te procuram, terão diferentes entendimentos sobre a máquina pública. Essa relação é contínua. Vocês [jovens monitores/as] têm que dar respostas e saber o que compõe as políticas [públicas] para atender todas as demandas que chegam e também as que não chegam. Tem que problematizar no território”, afirma.
A diretora do Centro Cultural da Penha (CCP) Teca Spera diz que é importante existir diálogo entre os equipamentos culturais e os grupos da região, possibilitando a ocupação dos espaços. “Estabeleço uma relação com todos os coletivos da região. Por mim, abarco todo mundo, porque é o justo ter o espaço liberado a todo coletivo, e dessa maneira fazer com que ele possa crescer e apresentar um processo criativo que ele acredita”.
Ezio Rosa, integrante dos grupos Ijó Lewá e Ilú Obá de Min, é morador da região e frequenta o espaço há muitos anos. Inspirado por uma atividade do Movimento Cultural da Penha na época do colégio, passou a participar de oficinas e outras atividades culturais. Atualmente escreve para o blog Bicha Nagô e desenvolve atividades de arte-educação sobre o tema da diversidade sexual para crianças de uma escola da zona leste.
Para ele, a cultura pode auxiliar no combate à LGBTfobia (intolerância à lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) de diversas formas, começando pelo acolhimento dessas pessoas nos equipamentos culturais. “Por ser jovem, o diálogo do/a jovem monitor/a acaba sendo muito mais fácil, porque ele/a dialogará provavelmente com pessoas da mesma idade”, finaliza.