Jovens monitores culturais visitaram Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes
Os jovens monitores culturais do Programa Jovem Monitor Cultural (PJMC) visitaram no dia 26 de janeiro o Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes (CFCCT), localizado no extremo da zona leste de São Paulo. A atividade integrou a formação teórica do programa desenvolvida pelo Instituto Pólis.
Foi realizada uma visita monitorada pelos jovens monitores que atuam no próprio CFCCT, onde apresentaram diversos espaços do equipamento, tais como o cinema, as salas de teatro e dança e a biblioteca temática em Direitos Humanos.
William Silva de Moraes, gestor do PJMC no CFCCT, falou da importância de se fazer uma interface da cultura com a saúde. “Acho que a gente trabalha aqui [no CFCCT], inclusive, com prevenção em saúde, porque uma pessoa que consegue se divertir, ou é uma pessoa que adoece menos ou adoece com menor gravidade”.
Foi realizada uma roda de conversa sobre gestão cultural, juventudes e dinâmicas territoriais da região. Estiveram presentes diretores e gestores de equipamentos culturais da cidade e duas integrantes de coletivos culturais de Cidade Tiradentes, Nay Lopes e Priscila Novaes.
“O papel dos jovens monitores nos equipamentos é fundamental pra ajudar os gestores a olharem as coisas de forma mais ampliada. Isso é característico do jovem”, disse Eduardo Sena, diretor do Departamento de Expansão Cultural (DEC) da Secretaria Municipal de Cultura (SMC).
Para Guilherme de Cerqueira Cesar, diretor do CFCCT, o Programa Jovem Monitor Cultural possui um diferencial. “Ele incide sobre uma coisa que a SMC precisa muito, que é de gente jovem pensando e elaborando, trabalhando, pensando e formulando esse fazer, ajudando a fortalecer essa secretaria”.
Participou também da atividade Ricardo Scardoelli, diretor de programas e projetos do Centro Cultural da Juventude (CCJ). “O PJMC começa no CCJ e a expansão parte também do diálogo nosso e da compreensão da importância política que esse programa tem em sua complexidade”, disse.
Cultura contra o machismo e a intolerância religiosa
Nay Lopes tem 28 anos e mora em Cidade Tiradentes desde que nasceu. Envolvida no movimento Hip Hop desde os 14 anos, criou com algumas amigas em 2012 o Mulheriu Clã, coletivo de mulheres MC’s. Atualmente se apresentam em diversos espaços da cidade.
“O coletivo foi criado porque, no movimento Hip Hop, assim como em toda a sociedade, existe o machismo. Ele é um pouco mascarado, mas realmente existe e no Hip Hop é maior porque é um movimento liderado por homens”, afirmou Nay.
Outra pessoa que participou da roda de conversa foi Priscila Novaes, 30 anos, do Mulheres de Orí. O coletivo trabalha com pesquisa, dança, estética, moda, artes visuais e possui enfoque na gastronomia afro-brasileira. Um dos projetos do coletivo é o Ajeum – O Sabor dos Deuses, em parceria com a associação Associação Ilê Asé Osun Obá Ochê Boiadeiro Sete Montanhas e Bará Toco Preto.
“Vamos de encontro à intolerância religiosa utilizando a gastronomia pra falar um pouco dessa violência que sofremos diariamente. Hoje a correria do dia-a-dia nos leva a outros caminhos, mas a alimentação é um processo incrível de socialização. Pela alimentação eu consigo saber quem você é, com quem você anda. Diz muita coisa sobre sua cultura, se você é pobre ou rico”, disse ela.
Cidade Tiradentes
As dinâmicas territoriais do distrito de Cidade Tiradentes também foram abordadas na formação. De acordo com o diretor do CFCCT, estar na região é pensar a formação urbana de São Paulo. “Falar deste bairro é falar da segregação urbana, da ocupação urbana agressiva, violenta, muito pautada pelo capital imobiliário, pela especulação, e que não respeita o cidadão”, disse Guilherme.
Segundo ele, Cidade Tiradentes tem uma história de força cultural e política fundamental para que a população conquistasse espaços como o CFCCT. “Esses espaços não podem ser encerrados em si, não podem ser uma ilha da fantasia. Têm que estar organicamente integrados ao espaço”.
As produtoras culturais Priscila Novaes e Nay Lopes contam suas relações com o bairro. “Sou moradora de Cidade Tiradentes há 22 anos, moro aqui desde meus 8 anos. Passei parte da minha juventude nos bailes funk, nas rodas de samba, nos bailes blacks”, disse Priscila.
“Minha formação toda de caráter, de estudo, foi feita aqui em Cidade Tiradentes. Aqui não tinha ruas asfaltadas, havia dois orelhões. Internet não existia, não tinha padaria, comércio”, explicou Nay.
“O Instituto Pólis tem uma história tanto com a Cidade Tiradentes quanto em pensar, desenvolver, elaborar e até de aplicar políticas públicas nas áreas da cultura, do planejamento e desenvolvimento urbano. É uma organização conhecida e reconhecida por isso. Foi natural eles terem participado desse processo do PJMC”, contou Guilherme.