Galeria Olido recebe jovens monitores/as culturais para formação sobre produção
Assista o vídeo da produção
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Confira a cobertura do debate realizado pelo Instituto Pólis durante a Semana da Mobilidade
Andar de bicicleta pode alterar nossa percepção de cidade? Esse meio de transporte se entrelaça a outros movimentos e lutas sociais? É possível construirmos uma mobilidade cultural a partir do pedal? Essas foram algumas das pautas abordadas no debate sobre espaço urbano, promovido no âmbito do Programa Jovem Monitor Cultural (PJMC), articulado pelo Instituto Pólis, durante a Semana da Mobilidade 2015.
“Com a bike, você consegue sentir o cheiro; escutar a cidade; ver o espaço de outra maneira” relatou Luiz Barata, coordenador de gestão do PJMC e mediador da mesa. Ao fazer a abertura do debate, o coordenador mencionou a primeira pedalada pelo centro de São Paulo, organizada pelo Instituto Pólis.
A bicicleta pode ser considerada um instrumento revolucionário. No entanto, segundo Talita Noguchi, sócia proprietária da loja Las Magrelas e integrante do Coletivo Feminista de Ciclismo Pedalinas, depende de quem a pedala. “O ativismo da mobilidade é importante, mas por si só ele não é a solução˜, afirma Noguchi. O recorte de gênero, por exemplo, é intrínseco ao cicloativismo, pois a mulher ainda encontra dificuldades em ocupar o espaço público, devido a assédios nas ruas.
Para Marina Harkot, integrante do GT de gênero do Ciclocidade, andar de bicicleta na cidade pode ser perigoso para as mulheres. Em São Paulo, cerca de 6% dos ciclistas são mulheres. Segundo Harkot, a baixa porcentagem é reflexo do medo que a classe feminina têm da rua e da ausência de estímulo às mulheres ao esporte.
Quando a pauta é mobilidade urbana, além do recorte de gênero, é necessário um recorte de classes. Roberson Miguel, membro do movimento Ciclovia nas Periferias, acredita que devemos desconstruir a ideia de que bicicleta e transporte público são exclusivos de determinadas camadas sociais. A bicicleta é um instrumento democrático capaz de proporcionar uma vivência mais intensa do espaço urbano.
Além fazer intersecções com movimentos sociais, será que a bicicleta pode ser um meio de disseminar arte? Para Gustavo Guimarães, idealizador e diretor do Ciclistas Bonequeiros, tudo indica que sim. O grupo mescla a linguagem do teatro lambe-lambe com a mobilidade da bike. Essa técnica teatral utiliza uma caixa preta como espaço cênico e bonecos como personagens. Segundo Guimarães, a cidade é palco para a dramaturgia com bonecos. O projeto é uma maneira de democratizar a prática teatral e questionar a política carrocrática na qual estamos inseridos.
A mídia é uma das responsáveis pela construção da ideia de que carro deve ser a norma e nunca é culpado pelos acidentes de trânsito envolvendo ciclistas.”Onde está o discurso do capacete?”, indagou o cicloativista Gabriel Di Perro. Propaga-se, assim, a noção de que os ciclistas e pedestres devem se proteger de seus próprios atropelamentos. Segundo Di Perro, existe uma lógica de que a culpa deve recair naqueles que se arriscam demais – no caso, nos ciclistas.
Da esquerda para a direita: Roberson Miguel, Talita Noguchi, Marina Harkot, João Whitaker, Gabriel Di Perro, Gustavo Guimarães e Luiz Barata
A mobilidade, que nunca foi satisfatória entre os mais pobres, entrou em colapso a partir do momento em que passou a afetar as classes dominantes. De acordo com o urbanista João Whitaker, o automóvel mostrou-se um transporte anti-sustentável. A qualidade do sistema de mobilidade de uma cidade pode ser avaliada pela capacidade de deslocamento da população. Segundo Whitaker, se não há deslocamento, não há cidade.
A rapidez dos transportes mede o nível de democracia de determinado local. Sobre São Paulo, o urbanista defende que vivemos uma peculiaridade urbana: aqui existem políticas de privilégios e barreiras sociais. Ao se tentar desconstruir essa lógica – como está acontecendo agora com o aumento de investimentos em transportes públicos de massa – há uma reação violenta, que evidencia os antagonismos sociais da cidade.
O Instituto Pólis, a partir do Programa Jovem Monitor Cultural, deu espaço para que os jovens pudessem vivenciar a Semana da Mobilidade por meio da 1ª Pedalada, pelo centro da cidade, e do debate narrado. A bicicleta vai além da mobilidade: pode transportar movimentos sociais, culturas e até mesmo uma revolução.
Assista ao vídeo do debate:
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Instituto Pólis promove pedalada pelo direito à cidade como ação da Semana da Mobilidade
A atividade, que compõe formação para jovens participantes do Programa Jovem Monitor Cultural, trará também palestras e discussões sobre o tema
Como proposta de vivência de um novo paradigma de mobilidade, o Instituto Pólis, por meio do programa de formação Jovem Monitor Cultural (JMC), realizará dia 21 de setembro uma pedalada pelas ciclovias do centro da cidade de São Paulo. Durante o percurso, os jovens envolvidos no Programa participarão de debates sobre mobilidade urbana e direito à cidade com cicloativistas e outros especialistas.
“As ciclovias e o uso da bicicleta propõem uma disputa simbólica: qual é a cidade que queremos? O que desejamos do espaço que vivemos?”, questiona Martha Lemos, coordenadora de educação do Instituto Pólis para o JMC. Ela acredita que deixar o carro implica em novos valores de convivência.
A atividade conta com a parceria da Secretaria Municipal de Cultura, da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e dos grupos cicloativistas Ciclocidade e Ciclistas da Periferia.
Aula com urbanista terá transmissão online
Durante o período da tarde, a partir das 14h, os jovens terão curso sobre as disputas existentes no espaço urbano e a necessidade de apropriação cultural de locais públicos, com o urbanista e docente da USP João Whitaker e o cicloativista Gabriel Di Pierro. A aula terá transmissão online via streaming, realizada pela Associação Rede Rua. O link estará disponível no site do Instituto Pólis (www.polis.org.br).
Sobre o Programa Jovem Monitor Cultural
Criado pela Lei Municipal 14.968/09 e o Decreto Municipal 51.121/09, o Programa Jovem Monitor Cultural visa a formação teórica e prática de jovens, entre 18 e 29 anos, que atuam no atendimento, produção e difusão da cultura em equipamentos culturais da cidade de São Paulo. O programa é coordenado pela Secretaria Municipal de Cultura (SMC) por meio do CCJ – Centro Cultural da Juventude.
O Instituto Pólis realiza a formação teórica de jovens monitores que atuam em casas de cultura, centros culturais, teatros distritais e gabinete da SMC.
Financiado pela SMC, o Programa tem a duração de um ano e conta com formações teóricas no Instituto Pólis às segundas-feiras e formações práticas nos equipamentos culturais durante a semana, acompanhados por agentes de formação in loco.
Quando: Segunda-feira, 21 de setembro, 10h
Onde: Início na Praça da República
Informações:
Instituto Pólis – (11) 2174-6800
Martha Lemos – martha@polis.org.br
Imprensa: Leandro Fonseca – leandro@polis.org.br
do Pontão de Convivência e Cultura de Paz do Instituto Pólis
Como promover articulações e espaços de diálogo nos mais diversos territórios de uma cidade como São Paulo, com 11,89 milhões de habitantes? Para superar esse desafio, a Secretaria Municipal de Cultura (SMC) iniciou em 2014 uma política de territorialização, apresentada aos/as jovens monitores/as na formação teórica do Programa Jovem Monitor Cultural (PJMC) desenvolvido pelo Instituto Pólis, no dia 08 de junho.
De acordo com Luciana Lima, assessora do Gabinete da SMC, a secretaria tem um histórico de discussão sobre territorialização, mas nunca se estruturou de modo a alcançar as várias regiões da cidade. “O nosso dilema era esse, como promover a articulação territorial sabendo que não conseguiremos ter no curto prazo ‘braços’ territoriais com pessoas dedicadas exclusivamente a isso”.
Um dos objetivos dessa política é promover as articulações do território, fazendo com que os/as envolvidos/as com a ação cultural dessas regiões se encontrem e tenham mais espaço de diálogo e de construção conjunta, ampliando, também, o diálogo da estrutura centralizada da secretaria com aquilo que acontece nos territórios.
“Temos a necessidade de também levar as iniciativas da secretaria como um todo e ouvir um pouco mais daquilo que está acontecendo na ponta, de quais são as possibilidades de pensarmos numa atuação conjunta, de quais são as questões mais urgentes e as dificuldades”, explica Luciana.
Uma primeira ação foi trabalhar, junto à gestão dos quase 200 equipamentos da SMC (incluindo, bibliotecas, teatros e centros culturais), a partir dos comitês regionais de articulação territorial propostos no Seminário “SMC no Território – articulando as políticas culturais na cidade de São Paulo”, realizado em dezembro de 2014. Os comitês foram estruturados em nove macrorregiões que contemplam todas as zonas da cidade.
Para pensar as ações de territorialização, foram criadas quatro frentes de trabalho: Comunicação; Articulação com a sociedade civil; Articulação com governo local e outras secretarias; e Estruturação da própria política de territorialização. Para Luciana, as duas primeiras frentes tiveram destaque, possibilitando a identificação de demandas comuns das macrorregiões.
“Começamos, de fato, a concretizar as ações a partir das reuniões regionais. A ideia nunca foi levar do Gabinete da Secretaria Municipal de Cultura uma determinação do que as pessoas terão que fazer nas regiões. Foi sempre o inverso: vamos sentir quais são as principais necessidades e dificuldades para ver o que priorizamos e o que conseguimos avançar, apesar das inúmeras dificuldades”, afirma a assessora.
Continue lendo a matéria no link: https://www.polis.org.br/convivenciaepaz/?p=3516
Espetáculo “Carne – Patriarcado e capitalismo”, da Kiwi Companhia de Teatro, e Sarau Junino compuseram momentos de encontro
do Pontão de Convivência e Cultura de Paz do Instituto Pólis
Com o objetivo de promover o encontro entre todos/as os/as jovens monitores/as culturais que atuam nos equipamentos públicos de São Paulo, a Ação Educativa e o Instituto Pólis organizaram formações do Programa Jovem Monitor/a Cultural em conjunto, com a ideia de fomentar trocas de experiências entre os/as jovens, bem como fortalecer a política pública na cidade.
O primeiro encontro ocorreu na tarde da segunda-feira (01/06) para prestigiar o espetáculo “Carne – Patriarcado e capitalismo”, da Kiwi Companhia de Teatro. Com larga trajetória na discussão de temas sociais e políticos através do teatro, a Kiwi iniciou as apresentações públicas deste espetáculo ainda em 2010, com o objetivo de provocar discussões em torno das relações profundas entre patriarcado e capitalismo. Para a montagem, o grupo se inspirou em autoras como Elfriede Jelinek, prêmio Nobel de Literatura em 2004, e Michelle Perrot, historiadora e professora emérita da Universidade Paris VII.
A peça apresenta duas mulheres em cena, que atuam, cantam, utilizam objetos domésticos e pintam-se obsessivamente. Intercaladas às cenas, são apresentadas estatísticas sobre as violências cometidas contra as mulheres no país, além de imagens publicitárias e de artistas contemporâneos. O objetivo é escancarar a desigualdade de gênero e o panorama desse tipo de opressão, em especial a situação específica da violência contra as mulheres no Brasil.
De acordo com estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), no período de 2001 a 2011, estima-se que ocorreram mais de 50 mil feminicídios (mortes de mulheres decorrentes de conflitos de gênero) no Brasil. Tal número configura aproximadamente 5.000 mortes por ano. Vale destacar que grande parte desses crimes estão ligados à violência doméstica e familiar. Veja mais aqui.
O projeto “Carne” vai além do trabalho cênico. Incluiu também debates e oficinas, que abordaram as temáticas centrais do trabalho: feminismo, marxismo, patriarcado e capitalismo. Somente o trabalho cênico de “Carne” foi apresentado mais de 70 vezes em todas as regiões da cidade de São Paulo, sempre em parceria com coletivos artísticos, movimentos sociais e organizações populares.
Após a apresentação, o grupo de jovens monitores/as culturais das duas organizações falou sobre as questões apresentadas na peça, trouxe perguntas sobre o processo de construção do trabalho, as possibilidades da linguagem teatral, as políticas públicas que tratam do tema, o feminismo, a violência e a opressão de gênero. Confira alguns momentos desse dia, as falas da atriz Fernanda Azevedo e da jovem monitora Mirna Neit Félix, que atua no Teatro Décio de Almeida Prado:
Já no mês de junho, aproveitando o clima junino da época, os/as jovens monitores/as se reuniram em um sarau junino no CCJ – Centro Cultural da Juventude na segunda-feira (29/06).
Pela manhã, os/as jovens do próprio espaço apresentaram os eixos e as atuações do centro cultural através de um passeio pelo local. À tarde, o Sarauzão Junino dos Jovens Monitores/as Culturais foi o momento de reunião do coletivo, em que foram apresentadas poesias autorais e de escritores/as reconhecidos/as, músicas, encenações e performances.
A banda de forró pé de serra Trio Macaíba, formada pelos músicos Cleber Almeida, Beto Corrêa e Ramon Vieira conduzindo instrumentos como sanfona, triângulo e zabumba, tocou a festa após o sarau. Veja a opinião da jovem monitora Mayara Dias, que atua no CCJ:
Saiba mais:
Veja o documentário “Carne”, que registrou parte do processo da Kiwi Companhia de Teatro com o trabalho.
O Programa Jovem Monitor Cultural, lança o Edital de seleção para 3º Cadastro de Reserva 2015, instituído no município de São Paulo pela Lei 14.968/09 e regulamentado pelo Decreto 51.121/09. O processo seletivo classifica jovens de 18 a 29 anos selecionados em um cadastro de reserva.
O Programa de Formação seleciona até 237 jovens de 18 a 29 anos para se formarem e atuarem nos equipamentos da Secretaria Municipal de Cultura entre eles, Casas de Cultura, Bibliotecas Públicas Municipais, Centros Culturais, Teatros, Museus e no gabinete da própria secretaria.
É possível se inscrever para mais de um equipamento na mesma inscrição, até no máximo 3 equipamentos distintos, desde que o/a candidato/a observe que é necessário residir/morar (condição para ingresso e permanência no programa) na região da Subprefeitura do equipamento ou das Subprefeituras vizinhas, veja os locais de atuação no edital.
Faça sua inscrição aqui.
A seleção e classificação dos candidatos se dará em três etapas:
Pré-inscrição e 1ª fase de seleção: virtual no site, classificatória e eliminatória: de 21 de julho de 2015 (terça) a 21 de agosto de 2015 (sexta), até 18h.
Critérios: Ter idade entre 18 e 29 anos; Pertencer, preferencialmente, à família de baixa renda; Demonstrar domínio da expressão escrita e itens básicos para atuação no processo formativo prático; Ter completado o Ensino Médio; Residir no Município de São Paulo há pelo menos 1 ano.
2ª fase de seleção: presencial, em grupos, classificatória e eliminatória: realizada nos equipamentos da Secretaria Municipal de Cultura, em horários agendados previamente por e-mail no endereço informado na ficha de inscrição on-line. Além da seleção pelas respostas às perguntas do formulário, serão admitidos para a 2ª fase de seleção presencial apenas candidatos que atenderem cumulativamente as características exigidas na legislação sobre o programa e neste edital.
Os locais de convocação e realização para dinâmica de grupos da 2ª fase não necessariamente são os mesmos locais para os quais o jovem se candidatou, mas em polos definidos pela equipe de gestão do programa.
3ª fase de seleção: presencial, individual, classificatória e eliminatória, nos equipamentos da Secretaria Municipal de Cultura, em horários previamente agendados (com no mínimo, 2 dias de antecedência) com quem for selecionado na 2ª fase.
O Morro do Querosene, localizado na região do Butantã, zona oeste de São Paulo, possui ares de cidade interiorana. Em 18 de maio de 2015, suas ruas tranquilas foram ocupadas por dezenas de jovens que participam do Programa Jovem Monitor/a Cultural (PJMC). Além da caminhada pelo bairro, conhecendo suas histórias e encantos, os/as monitores/as vivenciaram diversas brincadeiras da cultura popular.
A formação teve início na Associação Cultural do Morro do Querosene, entidade que existe desde 1998 a fim de propiciar condições para o desenvolvimento das atividades artísticas e culturais da região. Atualmente, também desenvolve seu projeto de Ponto de Cultura “Arte & Cultura do Morro do Querosene” com apoio da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de São Paulo. Entre as várias atividades deste projeto, estão aquelas relacionadas à Orquestra de Berimbaus do Morro do Querosene, idealizada e dirigida por Dinho Nascimento.
“Estamos a trinta minutos da [avenida] Paulista e, no entanto, parece que estamos em outro mundo, que não essa cidade cheia de prédios e carros. O Morro do Querosene tem uma característica meio mágica”, comenta Cecília Pellegrini, diretora da Associação. “Aqui é muito presente essa coisa de ocupar a rua, das pessoas se cumprimentarem e sentarem na calçada”.
Além de capoeirista, dançarino e músico popular, o maranhense Tião Carvalho é o idealizador e responsável pela tradicional festa do bumba-meu-boi realizada há anos na praça do bairro. Ele esteve presente no dia compartilhando sua trajetória e experiências de vida. Para Tião, a realização da festa possibilita uma dinâmica e valorização dos encontros. “A cultura popular é orgânica. A cultura oral vem dos antepassados e é muito importante, pois abre espaço para vários diálogos e trocas”.
Nascido em Salvador, Dinho Nascimento também contou sobre suas vivências, sua história e da importância das relações interpessoais, cada vez mais distantes com o avanço das novas tecnologias. “Hoje temos o celular e o computador. Devemos ter muito cuidado, pois precisamos nos olhar no olho, precisamos nos ver e nos encontrar”.
Dinho destacou os trabalhos realizados no bairro antes mesmo da existência de políticas públicas culturais, como os editais dos “Pontos de Cultura”. Para ele, apesar da formalidade, o edital solidificou tais práticas na região. “Fazíamos cultura porque tínhamos que fazê-la. Já éramos, há anos atrás, Ponto de Cultura, mesmo sem ter o recurso que hoje temos”.
A luta pelo Parque da Fonte
Segundo Dinho, a especulação imobiliária está transformando São Paulo, acarretando que importantes locais para o meio ambiente e a cultura sejam engolidos por prédios e o comércio. “Antes [a cidade] era a terra da garoa e do trabalho, hoje é a terra do trabalho e da especulação. A cidade está sendo invadida por várias torres habitacionais, está ficando muito sufocada, precisa respirar”, comenta.
E lugar para respirar é o que não falta no Parque da Fonte, situado entre a avenida Corifeu de Azevedo Marques e as ruas Santanésia e da Fonte. Com uma área de 35.400,00 m², o espaço guarda um pedaço de Mata Atlântica com nascentes d’água e diversas árvores frutíferas como jaqueiras, pitangueiras e bananeiras. Após o bate papo, foi realizada uma caminhada pelo Morro e os/as jovens monitores/as conheceram a área.
“Ainda não temos um espaço fechado, uma sede. Isso é uma luta antiga. Por um lado ficamos felizes, pois ocupamos as ruas, mas por outro às vezes faz falta ter uma sede. Temos um sonho de conseguir o Parque da Fonte e dentro desse parque ter nosso centro cultural”, afirma Cecília.
Com o decreto nº 52.575, de agosto de 2011, o espaço foi declarado de utilidade pública. Em 2012 foi tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (CONPRESP). O processo administrativo nº 2011-0.192.741-7 de desapropriação está em andamento na Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente.
Para dar visibilidade à luta, será realizado nos dias 28,29 e 30 de agosto o Festival de Artes do Morro do Querosene (FAMQ). O evento contará com um cortejo, uma roda de conversa, oficinas e diversas apresentações culturais e artísticas. “Vamos tentar colocar todas as vertentes da nossa cultura nesse festival, que é pra chamar a atenção [para a luta pelo Parque]. Até agosto, quem sabe, tenhamos novidades sobre o andamento do processo”, espera Dinho.
Ocupando as ruas
No período da tarde os/as jovens monitores/as experimentaram algumas brincadeiras populares. Foi formado um círculo ao redor da árvore da praça do Morro, animado por cirandas tradicionais do cancioneiro popular brasileiro. Movimentos e passos foram conduzidos por Tião Carvalho, acompanhado pela percussão do grupo Cupuaçu.
Cecília Pellegrini diz que a ação da comunidade de ocupar as ruas do bairro não surgiu de uma ideia pontual, mas pelo gosto pela brincadeira. “Fomos para a rua para brincar, não para trabalhar”.
Dinho lembrou um discurso muito utilizado por aí: “tirar as crianças da rua”. Para ele, é preciso fazer o contrário, ou seja, que as crianças ocupem as ruas. “Cadê as brincadeiras de roda, as bolinhas de gude? Acabaram? Estão todos no controle remoto da vida”, lamenta. “Temos que usar as ruas no bom sentido. E, enquanto estivermos no Morro, propagaremos, naturalmente, o sentido da cultura”.
O tema de Saúde Integral permeou toda a formação teórica do Programa Jovem Monitor/a Cultural (PJMC) realizada no dia 11 de maio. O dia foi marcado por diálogos sobre cultura como saúde, poder pessoal, comunicação em público e segurança alimentar.
O professor de comunicação e coach Léo Artese esteve presente no período da manhã e conduziu um diálogo motivacional, visando o aperfeiçoamento da comunicação em público por parte dos/as jovens e a promoção da autoestima, trazendo um conjunto de motivos que se manifestam e influenciam a conduta de um indivíduo.
De acordo com Léo Artese, para que uma pessoa consiga as coisas que deseja é preciso poder pessoal. No entanto, há fatores que contribuem para que esse poder seja limitado, como alguns “padrões negativos” que ficam em nossa memória corporal desde a infância, adquiridos na estrutura familiar. Entretanto, há a possibilidade de “reprogramarmos” esses padrões através de atitudes positivas.
Para Artese, o poder pessoal é medido pela capacidade de expressão e existe uma lacuna na educação, pois as pessoas adquirem conhecimentos, mas não sabem expressá-los. “As pessoas aprendem conceitos, mas não sabem como apresentá-los, não sabem como se expressar, e é tudo o que a vida profissional vai cobrar das pessoas, seja em apresentações ou conquista de vagas de emprego”.
Segurança alimentar
No período da tarde, a formação teórica contou com a presença de Christiane Costa, coordenadora da área de Segurança Alimentar e Nutricional do Instituto Pólis. Ela é socióloga e doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (USP).
Costa iniciou o encontro trazendo a definição de Segurança Alimentar e Nutricional segundo a Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional – LOSAN (Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006): é a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis.
“O conceito tem uma abordagem sistêmica, procura dar conta de relacionar vários atributos que se relacionam ao mesmo tempo”, comenta.
Foram trazidos dados do Estudo Nacional de Despesa Alimentar, 1974-1975 e da Pesquisa de Orçamentos Familiares 1986-1988; 1995-1996 e 2002-2003, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com as pesquisas, houve diminuição no consumo de cereais e derivados (em 1974/1975 era de 37,26%; em 2002/2003, 35,34%) e de verduras e legumes (em 1974/1975 era de 1,14%; em 2002/2003, 0,92%). Em contrapartida, o consumo de carnes subiu de 8,96% em 1974/1975 para 13,14% em 2002/2003. Já o consumo de refeições prontas, no mesmo período, subiu de 1,26% para 2,29%.
Segundo Christiane Costa, a massificação do consumo de carne, além de acarretar problemas ao meio ambiente, passou a exigir procedimentos que implicam em maus tratos aos animais. A prática de uma alimentação não saudável também pode provocar o aumento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e que acabam gerando altos custos para a saúde pública.
Christiane apontou, também, a mídia como influenciadora, principalmente em crianças, de práticas alimentares que prejudicam a saúde. De acordo com a pesquisa realizada pelo Observatório de Políticas de Segurança Alimentar (OPSAN) em 2006 e divulgada pela Universidade de Brasília (UnB), 72% das propagandas de alimentos estimulam o consumo de alimentos que não são saudáveis.
Propostas dos/as jovens
Após a palestra, os/as jovens foram divididos em grupos onde discutiram os principais desafios colocados na rotina da juventude em relação à alimentação. A partir disso, eles/as puderam elaborar propostas que serão apresentadas na VI Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional.
Entre os principais desafios, os/as monitores identificaram a ausência de tempo para produção do próprio alimento, o alto preço dos produtos orgânicos, a ausência de opções de comida saudável na rua, a rotulação inadequada de alimentos e a influência midiática na escolha da alimentação.
As propostas apresentadas pelos grupos apontaram que a solução para esses desafios seria uma mudança na cultura alimentar, educação alimentar nas escolas, cultivo de hortas pessoais e/ou comunitárias, regulamentação publicitária e opções de produção de alimentos no trabalho, além do comércio de alimentos saudáveis por preços mais acessíveis, promoção de feiras orgânicas por parte do Poder Público, entre outras.
Para Christiane Costa, a formação possibilitou serem visibilizados os dilemas e desafios da juventude na questão alimentar. “Saíram propostas muito boas. Penso que várias coisas que eles disseram cooperam no sentido de desconstruir essa visão de que a alimentação saudável é cara e inacessível e conseguir implantar programas, ações e atividades que possam afirmar o direito à alimentação e superar essas dificuldades”.
Localizada na região do Butantã, em São Paulo, a Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Desembargador Amorim Lima possui um Plano Político Pedagógico diferente das demais escolas. Na formação teórica do dia 04 de maio, os/as jovens monitores/as do Programa Jovem Monitor/a Cultural (PJMC) não apenas conheceram a experiência educativa do local, como também vivenciaram algumas práticas de arte-educação baseadas nas culturas tradicional e popular.
No período da manhã, os/as jovens participaram de vivências de coco de roda, samba de roda, maculelê, ciranda e outras manifestações culturais ministradas pelos mestres Alcides de Lima, Durval do Coco e o professor Rodrigo Pança, integrantes do Centro de Estudos e Aplicação da Capoeira (CEACA).
Existente desde 1988, o CEACA é uma associação sem fins lucrativos que tem como missão preservar e promover as culturas tradicionais, em especial a capoeira. Desde abril de 2000 desenvolve oficinas junto aos/as alunos/as da EMEF Desembargador Amorim Lima. No local, atua como Ponto de Cultura “Amorim Rima/CEACA” desde 2005.
“[A formação do dia] foi mais uma vivência pra vocês [jovens] sentirem no corpo como se dá essa relação da cultura tradicional com a escola”, explicou Rodrigo Pança antes das atividades começarem.
Rodrigo também conversou com os/as monitores/as sobre sua trajetória na capoeira. Oriundo da Favela do São Remo, ainda criança começou participar das oficinas de capoeira no projeto “Minha História” ministradas pelos mestres Alcides e Dorival. “A capoeira e o trabalho que os mestres [Alcides e Dorival] desenvolvem, e que eu de certa forma dou continuidade, transformou a minha vida no sentido de sair daquele mundo da minha comunidade, porque se você não se abrir, você acha que o mundo é aquilo que se vive lá”.
A escola transformadora
O Plano Político Pedagógico da Amorim Lima foi inspirado na Escola da Ponte, em Portugal, onde os/as alunos não são orientados por professores/as, mas por educadores/as tutores/as, que avaliam o progresso do/a estudante e tiram suas dúvidas em caso de necessidade. Os estudos são interdisciplinares e norteados por roteiros de pesquisa contendo objetivos, desenvolvidos a partir de livros didáticos sugeridos pela Secretaria Municipal de Educação. O Plano Político Pedagógico da escola foi aprovado em 2005 em uma reunião do Conselho de Escola.
Todo o Plano surgiu a partir da participação entre a escola e familiares dos/as alunos/as que, percebendo a dinâmica do local, pensaram em um novo modelo pedagógico e também de espaço – grades foram retiradas do pátio e dois grandes grupos de salas de aula tiveram suas paredes literalmente derrubadas.
“Acredito que a [EMEF] Amorim só pôde chegar nesse projeto de quebrar parede e conseguir chegar ao patamar em que está hoje por causa desse percurso que fomos construindo junto com a comunidade, fortalecendo muito mais a comunidade do que a própria rede de professores ou de educação, porque são os pais, hoje, que seguram esse projeto, de certa forma”, comenta Ana Elisa Siqueira, diretora que deu início às transformações físicas e pedagógicas na escola.
“A cultura permeia todo o trabalho pedagógico da escola”, explica. A proposta da escola, segundo a diretora, foi embasada em um trabalho de cultura popular. Através de uma parceria com uma fundação, foi dado início a um projeto onde os/as estudantes participavam de oficinas de cultura brasileira, vivenciando práticas de capoeira, dança e música. No entanto, não foi fácil possibilitar o encontro da escola com a cultura.
“Houve dificuldades quando trouxemos esse trabalho de cultura para dentro da escola, tanto para a comunidade, que muitas vezes não via isso como algo importante a ser estudado e trabalhado no horário pedagógico, como para os professores que, de certa forma, não encaravam essa linguagem como importante pro seu próprio trabalho”, conta.
Por fim, os/as jovens monitores/as puderam conversar sobre como os/as estudantes se organizam, a formação dos/as professores, os desafios de manter o Plano Político Pedagógico diferenciado, a relação da escola com a gestão pública, entre outros assuntos.
“A coisa mais importante do fundamento do ser humano é nos constituirmos como seres culturais. Sentimos que as crianças podem exercitar, do ponto de vista da cultura e do corpo, uma condição muito mais ampla de aprendizagem”, finaliza.
Já está disponível para download a revista produzida pelos/as jovens do Programa Jovem Monitor/a Cultural (PJMC) desenvolvido pelo Instituto Pólis. Fruto de um trabalho em conjunto entre a equipe do Instituto Pólis e a Secretaria Municipal de Cultura (SMC), a publicação é resultado de uma série de formações sobre Direito à Comunicação, Democratização da Mídia e Jornalismo Social e Comunitário. Para baixá-la, clique aqui.
Os/as jovens elaboraram pautas jornalísticas a partir das orientações dos jornalistas Thiago Borges, do site Periferia em Movimento, Marina Lopes, correspondente do Blog Mural, e Leandro Fonseca, assessor de comunicação do PJMC no instituto.
As pautas foram desenvolvidas e transformadas em matérias jornalísticas, cujos temas estão relacionados aos equipamentos e territórios onde atuam os/as monitores/as.
Os exemplares físicos podem ser adquiridos gratuitamente no Instituto Pólis (Rua Araújo, 124 – Vila Buarque), na Ação Educativa (Rua General Jardim, 660 – Vila Buarque), na recepção da Galeria Olido (Avenida São João, 473 – Centro) ou no Centro Cultural da Juventude (Avenida Deputado Emílio Carlos, 3641 – Vila Nova Cachoeirinha).
Toda a diagramação da revista foi realizada pela jovem monitora Lisa Coelho, da Divisão de Programação do Departamento de Expansão Cultural (DEC), e pelo designer gráfico do DEC Fábio Carvalho.
“A revistinha vem pra somar aí com a nossa força”
A jovem monitora da Divisão de Programação do DEC, Letícia Rizzo, participou da elaboração das entrevistas da matéria “Da Vitrine à Paissandú”. A matéria traça um perfil da Vitrine da Dança, Sala Olido e Sala Paissandú da Galeria Olido a partir de entrevistas realizadas com gestores/as desses espaços.
“Achei bem bacana participar. Por mais que eu já tenha feito algumas entrevistas, já que faço jornalismo, essas foram diferentes porque tenho contato direto com os entrevistados. Eles trabalham comigo, então é um pouco estranho entrevistá-los ou mesmo elaborar perguntas para eles”, disse Letícia Rizzo.
Para a jovem monitora, que também é estudante de jornalismo, o trabalho funcionou como um espaço para praticar os conteúdos teóricos da faculdade. Além disso, serviu para entender o funcionamento do equipamento em que atua. “Por mais que eu acompanhe, já que atuo lá, é legal quando as coisas são esclarecidas, como eles fizeram, explicando tudo”, conta.
Já para o jovem monitor Rafael Fialho, que atua no Centro Cultural da Penha (CCP), o trabalho possibilitou o grupo conhecer espaços de cultura e convivência no território. Ele diz, também, que a publicação pode dar maior visibilidade aos temas abordados nas matérias. “Acredito que a publicação em si é algo muito bom. Ter registros das nossas produções é uma maneira de deixar um legado para a continuidade do Programa”, afirma.
Rafael e a jovem monitora Jéssica Inácio da Costa escreveram a matéria “Feira cultural Pueblo Andino: Espaço de convivência e resgate cultural”, que fala sobre essa feira realizada pela comunidade boliviana no bairro da Penha, zona leste de São Paulo.
A jovem monitora do Centro de Formação Cultural de Cidade Tiradentes (CFCCT), Camila Araújo, junto ao jovem monitor Daniel Claudino, elaborou a entrevista com a arquiteta e artista plástica Natália Scromov Espada, que tem como uma das principais fontes de inspiração o bairro da Penha.
“O constante exercício da escrita e da leitura que tive que fazer para realizar a entrevista é importante, pois aumenta o repertório de conhecimentos e dá embasamento para a fala e no trato com as pessoas”, afirma a monitora.
Essa experiência a permitiu conhecer, também, outros elementos artísticos como arquitetura, arte visual e poesia voltada ao contexto urbano. “Não sabia como estas coisas poderiam se mesclar tão bem, de maneira a trazer à tona aspectos sobre a cultura boliviana. Isso te dá várias ideias de como intercambiar diferentes linguagens artísticas e culturas em projetos”, comenta.
“Foi uma boa experiência, mas ficaria satisfeito se fosse a primeira de muitas. Como todo bom aprendizado, eu levarei por toda minha caminhada”, contou o jovem monitor Elias Gehrti, que atua no teatro Zanoni Ferrite. Ele escreveu a matéria “Sarau Estrela do Norte”, sobre a ocupação de um coletivo de moradores em uma praça no bairro Patriarca, na zona leste. “Gosto quando a oportunidade de se expressar surge”.
Atuante no teatro Leopoldo Fróes, o jovem monitor Igor Valentin é um dos colaboradores da matéria “Cadeiras vazias em teatros”, que aborda os desafios da formação de público em alguns teatros distritais da zona sul. Ele diz que o exercício da escrita é muito importante, seja para produzir uma matéria jornalística ou trabalho acadêmico, e que o trabalho do grupo pode abrir caminhos para a reflexão sobre o papel dos equipamentos públicos nos territórios. “Essa reflexão, em minha opinião, tem que partir de todos, gestores, funcionários, jovens monitores e etc”, pontua.
Shayanny de Sá, que atua no teatro Leopoldo Fróes, também colaborou com essa matéria. Para ela, participar da atividade despertou em si a vontade de escrever mais. “Acredito na importância de divulgar e levantar dados, opiniões e informações sobre os equipamentos, eventos e assuntos culturais da cidade. Me senti colaborando positivamente no fomento da cultura e da cidade”.
“Gostei de ver que a voz dos jovens monitores está sendo ouvida e registrada. Eu acho que esse programa é revolucionário, porque ele de fato afeta a dinâmica dos equipamentos, no bom sentido. Traz novas perspectivas de se fazer política pública, mexe com as zonas de conforto. Então a revistinha vem pra somar aí com a nossa força”, completa Igor.