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De São Paulo ao El Alto: arte, poesia, música e diversidade nas ruas de La Paz

18/05/2013

Após meses de muita articulação, reuniões e planejamento, a delegação paulista chega a La Paz para participar do I Congresso Latinoamericano Cultura Viva Comunitária. Durante seis dias representantes de pontos de cultura, coletivos artísticos e diversos articuladores culturais de 17 países da América Latina se reúnem na Bolívia para partilhar experiências e refletir sobre a cultura viva comunitária.

Com cerca de 1.200 pessoas, a primeira ação pública do Congresso levou às ruas de La Paz a diversidade cultural deste encontro. Saindo do Mercado Camacho, na região central de La Paz, e subindo mais de quatro mil metros de altitude, chegando à cidade satélite de El Alto, as delegações percorreram as ruas estreitas, as feiras populares e os descampados do bairro realizando intervenções poéticas nos pontos principais e históricos de La Paz.

De acordo com o coordenador do congresso, Ivan Nogáles (Bolívia): “vamos resignificar o termo assalto, ao invés de tirar, vamos devolver à cidade, à população e à America Latina o direito do bem viver, da arte, do sonho e da alegria”.

“Levar ao céu por assalto” este foi o mote poético usado para que as ruas de La Paz fossem preenchidas com as cores e os ritmos das delegações latino-americanas, entre maracatus, ijexás, cirandas e outros ritmos as vias da cidade eram assaltadas com a arte e a poesia das delegações, despertando curiosidade nos moradores e ambulantes bolivianos.

Com a intenção de percorrer o imaginário e o resgate histórico de La Paz, os assaltos foram divididos por cinco momentos e temas poéticos, passando pela poética do sonho, da rebeldia, da morte, da memória e do corpo.

Na sede do Teatro Trono Compas houve o primeiro assalto, a Poética dos Sonhos, nas palavras de Nogáles: “não há existência palpável sem o sonho. Sonhamos para depois ser. El Alto é onde nasce o Estado Plurinacional, daqui nasce Evo Morales, o primeiro presidente indígena. Vamos despertar nossos sonhos e nos conectar com o sonho coletivo, com o nosso ayaho, nossa alma”.

Saindo da sede do grupo Teatro Trono Compas, onde acontecia a Jornada de Diálogo da Rede Latino-americana de Teatro Comunitário, o grupo de aproximadamente 300 pessoas seguiam pelos labirintos estreitos, feira popular onde a diversidade de cheiro e sabor bolivianos eram ofertados pelas cholas, as mulheres bolivianas.

Chegando na Feira das Comunicações, na Fundação Cabildeo, e encontrando com os outros 600 participantes do congresso, tinha início o segundo assalto: Poética da Rebeldia. Com um palco montado em praça pública e um microfone aberto serviam de espaço para leitura de poesias e para que MCs deixassem o seu recado.

“El Alto durante anos foi tido como lugar de vagabundos, marginais e de desprezo. Mas, é daqui que insurge a ruptura histórica e sepultamento das reminiscências coloniais. Aqui é o berço do Estado Plurinacional, onde nossos corpos deixaram de ser escravizados e silenciados pelo medo”, explicava Nogáles.

Hamilton Faria, coordenador geral do Pontão de Convivência e Cultura de Paz do Instituto Pólis, declamou a poesia “Vivemos” (Tempos,1977), de sua autoria. Nas palavras de Faria: “em La Paz a experiência social, cultural e espiritual são latentes e convivem em cada canto desta cidade. Nesta caminhada foi possível ver os coloridos e as diversidades criativas da América Latina.”

Descendo mais de 4.000 metros e sem perder o fôlego, as quase mil pessoas paravam as avenidas principais de El Alto. Passando por escadas e ruas estreitas o grupo seguiu para o Cemitério, onde se encontrou com os demais participantes do Congresso e realizou o terceiro assalto: Poética da Morte.

Em frente ao cemitério, os últimos coletivos se incorporavam ao coro e um grande círculo foi formado, ao centro atores representavam a poética e a estética da morte. “Aos nossos mortos, nossos ancestrais pedimos que nos protejam e nos acompanhem nesta jornada pela Cultura Viva Comunitária”, evocou Nógales.

Seguindo rumo à estação ferroviária, fechada há 12 anos, o grupo tomou as frentes do prédio e iniciava o penúltimo assalto: Poética da Memória. “Este espaço abandonado é fonte da memória coletiva”, explicava Nogáles que exercendo a função de corifeu evocava: “querida Estação Central queremos te pedir desculpas por termos demorado tanto. Hoje temos um pouco mais de corpo e capacidade de revindicar que cuidem-te. Assim como fizemos com os mortos, pedimos que a sua memória nos acompanhe”.

Ao fim da jornada, descendo, parando o trânsito da Avenida Santa Cruz e sem perder o ânimo, o grupo seguiu para a frente da Catedral São Francisco. Iniciava-se o último assalto: Poética do Corpo.  Ao badalar do sinos, o grupo brasileiro Ilu Obá de Min (São Paulo), trazia à La Paz a dança, a força e o ritmo dos orixás africanos rasgando a praça e subindo as escadarias se encontrando com a diversidade latinoamericana. Formando um corredor para passagens das iabas (deidades femininas Ioruba), os grupos percussivos da caminhada pulsavam ao ritmo do Ilu Obá de Min.

Em frente ao palco, que ao longo da semana serve de espaço aos diversos movimentos sindicais bolivianos, dava-se aberto oficialmente o I Congresso Latinoamericano de Cultura Viva Comunitária.

Entre os dias 20 e 21 de maio, o Pontão de Convivência e Cultura de Paz do Instituto Pólis participou dos círculos de visões do congresso, realizando a mesa de Cultura de Paz e Convivência. Acompanhe a programação