notícias
Docentes do Brasil e do mundo dizem não ao despejo de 8 mil famílias em Belo Horizonte
22/08/2014Por Movimento #ResisteIsidoro
A ameaça de colocar 8.000 famílias na rua, contando entre elas um grande número de crianças e idosos, trouxe à tona o antigo calcanhar de Aquiles que constitui a questão da destinação dos territórios que não cumprem nenhuma função social e o tratamento dispensado aos alijados do direito à moradia no Brasil. No dia 6 de agosto deste ano, o Estado de Minas Gerais comunicou oficialmente uma ordem de despejo violenta às ocupações Vitória, Rosa Leão e Esperança, da região do Isidoro, que compreende o norte de Belo Horizonte e parte de Santa Luzia.
Dividem a questão interesses imobiliários que chegam ao faturamento de 15 bilhões de reais e uma comunidade tão numerosa como nossas cidades interioranas constituída por trabalhadores pobres que lutam para que seja reconhecido seu direito à moradia. São elas pessoas que, numa cidade com um déficit habitacional de mais de 78 mil moradias, se encontram em grande parte inscritas no programa Minha casa Minha Vida que, até hoje, não entregou apenas uma única habitação destinada a pessoas para a faixa salarial a qual pertencem: de 0 a 3 salários mínimos.
Sem diálogo ou tentativas de exaurir possibilidades de resolução do problema, viabilizando contrapartidas que respeitem a dignidade e os direitos das famílias (à vida, moradia, segurança e dignidade), uma mobilização articulou-se em busca de alcançar outras respostas por parte do poder público. Dessas frentes de apoio participam moradores das ocupações, ativistas dos Direitos Humanos, artistas, membros da Igreja Católica, jornalistas, arquitetos, advogados e também professores universitários. Estes, tendo produzido o “Manifesto de docentes em solidariedade às Ocupações do Isidoro”, destacamos em razão de seu alcance que ultrapassou as fronteiras da cidade e do estados envolvidos.
Somam hoje mais de 500 assinaturas de docentes de áreas diversas do conhecimento, vinculados a universidades destacáveis do Brasil e do mundo. Entre eles estão a historiadora Virgínia Fontes, os sociólogos Boaventura de Sousa Santos e Ricardo Antunes e o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro que, como figuras pensantes que transitam por questões afins e diretamente ligadas à situação, confirmam a legitimidade das demandas sociais urgentes dessas ocupações.
A Pró-Reitora Adjunta de Extensão da UFMG Claudia Mayorga fala sobre o manifesto: “Através de trabalhos acadêmicos de diversas áreas do conhecimento, das Humanidades às Ciências Exatas, docentes em todo o Brasil têm difundido conhecimentos que explicitam a situação de precariedade e de violação de direitos humanos vividos por moradores de ocupações em diversas cidades brasileiras. Esses trabalhos explicitam a violência material e simbólica a que estão submetidas essas populações, e como docentes e cidadãos nos posicionamos contra essas práticas, através do manifesto.”
Em avaliação do panorama, o sociólogo Ricardo Antunes, professor da UNICAMP, acrescenta ainda: “Dentre tantas outras manifestações, como a precarização e o desemprego, que procuram converter a classe trabalhadora em ‘coisas supérfluas’, ‘desnecessárias’, a brutal desigualdade social, com a consequente riqueza concentrada em poucas mãos, criou o que, com lucidez, Mike Davis denominou como planeta-favela, com as cidades separadas entre ricos e pobres, mansões fechadas em seus condomínios privados e monumentais e, de outro lado, as favelas completamente desprovidas de mínimas condições de vida humana. E, com a ampliação das ‘áreas nobres’ para todas as partes, os pobres são empurrados ainda mais para a periferia da periferia… acentuando mais este traço da nossa barbárie. É contra essa brutal tragédia e segregação urbana e social que as ocupações populares se revoltam e se rebelam, expondo o enorme fosso social existente em nosso país e que tem que ser profundamente combatido”
Leia na íntegra o manifesto (disponível em português, espanhol e inglês) e assine-o através do link: http://migre.me/l56PA.
Saiba mais:
Manifesto de Docentes em Solidariedade às Ocupações do Isidoro