Intitulada “Cultura da Paz, Educação e Sociedade: Diálogo inadiável” , a palestra organizada pela Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE) terá a presença do poeta e coordenador de cidadania cultural do Instituto Pólis, Hamilton Faria. O debate, marcado para o próximo dia 29, será ministrado no Teatro Cesar Cava – espaço pertencente ao campus I da própria universidade.
A palestra será o encerramento da XVI Jornada de Educação e do XVI Simpósio de Iniciação Científica da Faculdade de Ciências, Letras e Educação de Presidente Prudente (FACLEPP), que, com o tema “Cultura da Paz: concepções, diálogos e propostas de ações”, ocorrerão na semana de 25 a 30 do mesmo mês.
Os interessados em integrar os eventos devem se encaminhar ao site da universidade para preencher o formulário de participação. O prazo de inscrições vai até o dia 25.
Localizado em Santana, na zona norte de São Paulo, o teatro Alfredo Mesquita foi inaugurado em 1988 e recebe diversas atrações artísticas e culturais. Foi lá onde aconteceu a formação teórica do Programa Jovem Monitor/a Cultural (PJMC) desenvolvido pelo Instituto Pólis, no dia 06 de abril.
Os jovens monitores que atuam no teatro realizaram uma visita monitorada de uma forma diferente: o grupo “plateia” recebeu ingressos para a visitação e o grupo “artista” conheceu o equipamento começando pelo estacionamento, camarins, coxias, sala de som e iluminação, e etc., percorrendo todo o percurso que os/as artistas que lá se apresentam fazem. Ambos os grupos, depois, revezaram a visitação.
Nesse dia, os/as monitores/as deram continuidade na elaboração das pautas de jornalismo social e comunitário, iniciada na formação teórica do dia 16 de março com Marina Lopes, correspondente do Blog Mural, e Thiago Borges, do site Periferia em Movimento.
Nilton Bicudo, gestor do teatro Alfredo Mesquita, fez uma breve fala de boas vindas e de apresentação do teatro, reafirmando a importância de utilizar o espaço mantendo sua preservação. O equipamento contava com uma área de 400m² que, após uma reforma em 2013, passou a ter um total de 1.109,3m². Atualmente, possui 198 lugares na plateia.
Valmir Souza e Altair Moreira, assessores de formação do PJMC no Instituto Pólis, realizaram uma introdução da estrutura e dos eixos da Secretaria Municipal de Cultura (SMC). Valmir explicou que, genericamente, a estrutura de uma secretaria de cultura é constituída por um gabinete, com o secretário e seu adjunto, cargos de confiança e departamentos. Para ele, a estrutura do Estado brasileiro é, em geral, muito burocrática e patrimonialista.
“Essa estrutura, que é clássica, não dá conta das ações culturais realizadas nos bairros, nas periferias. O dilema é: como construir políticas públicas para públicos que não são normalmente atendidos pela prefeitura? Foi por isso que surgiu o Programa de Valorização de Iniciativas Culturais, o VAI, por exemplo.”, complementou.
Em seguida, os/as jovens se dividiram em grupos para pensar em sugestões de pauta a serem abordadas nas formações teóricas específicas nos eixos de Programação, Arte-educação e Linguagens Artísticas.
E o dia foi finalizado com muita música: alguns/mas monitores/as realizaram apresentações musicais de rap, MPB e blues. O rapper Muringa Dsp, nome artístico do monitor Bruno Bezerra Trindade, interpretou canções de sua autoria, acompanhado pelos jovens Lucas Albuquerque Stella, Elias Gehrti e Marcos Antonio Leite da Silva. Subiram ao palco, também, Mirna Neit Félix e Wilson Lopes Neto cantando clássicos da música popular brasileira.
Para o jovem Caio Vinicius Ceragioli Vieira, que atua no próprio teatro Alfredo Mesquita, foi “bacana” fazer e pensar a formação desse dia. “Junto com o pessoal do Pólis, estruturamos o dia e foi bacana ver as coisas dando certo, principalmente essa uma hora final com as manifestações artísticas”.
Na formação específica do Programa Jovem Monitor/a Cultural (PJMC) realizada no dia 30 de março, na Galeria Olido, em São Paulo, os/as jovens puderam conhecer algumas políticas públicas culturais da Secretaria Municipal de Cultura (SMC), como é o caso dos programas Valorização de Iniciativas Culturais (VAI), Aldeias, Agente Comunitário de Cultura e Pontos de Cultura.
“A Cidadania Cultural é um núcleo novo e difícil de conceituar, mas que tem como base estrutural um corpo com direção, coordenação e técnicos, com o caráter de acompanhar o financiamento do processo de produção artística cultural e o fortalecimento de grupos da periferia, trabalhando a cultura regionalizada”, explicou o jovem monitor Daniel Strabeli em uma breve apresentação do Núcleo de Cidadania Cultural e de algumas políticas públicas culturais da SMC.
Em seguida, o grupo de choro “O Ovo”, contemplado pelo programa VAI, realizou uma apresentação musical interpretando clássicos da música popular brasileira.
Os/as monitores/as também participaram de oficinas desenvolvidas por artistas contemplados/as pelo programa Agente Comunitário de Cultura. O ator Claudinho Irennio, fundador da Cia. Malucômicos de Teatro, ministrou a oficina de circo. Yvison Pessoa, integrante do grupo Berço do Samba de São Matheus, conduziu a oficina de percussão. Na oficina de fanzine, ministrada por Evelyn Medeiros Kazan, do coletivo de comunicação CLick, foi realizada uma breve conversa sobre a história do fanzine, onde os/as participantes puderam confeccionar suas próprias produções. Já Naná Roots fez os/as jovens dançarem na oficina de Samba Rock e Sound System. Em seguida, os/as agentes compartilharam suas experiências culturais e artísticas em uma roda de conversa.
Aldeias
Heloísa Pires de Lucca, coordenadora do programa Aldeias, trouxe um breve histórico do programa, originado do Vocacional Aldeias, realizado de 2008 a 2013. O programa é resultado de uma parceria da SMC por meio do Núcleo de Cidadania Cultural com as comunidades guarani Mbya, e de um convênio com o Centro de Trabalho Indigenista (CTI). Em seguida, Martha Luiza Macedo Costa Bernardo e Breno Feijó Alva Zunica, agentes culturais do Aldeias, compartilharam suas experiências e visões do programa.
De acordo com Heloísa, existe uma integração entre programas da SMC. “Temos alguns projetos do VAI acontecendo nas aldeias, e o Programa Aldeias também apoia os projetos do VAI. É muito legal isso, pois conseguimos trabalhar, em termos de projetos culturais, de forma muito integrada. Não há projetos isolados acontecendo”.
Cultura descentralizada
O coordenador do Núcleo de Cidadania Cultural, Gil Marçal, esteve presente para conversar com os/as jovens sobre políticas de cultura. Ele iniciou o encontro dizendo que há um esforço da Secretaria em promover políticas culturais de forma descentralizada, preferencialmente em locais onde o direito à cultura, do ponto de vista do acesso e da experimentação, está mais distante. “Se esses locais estão mais distantes, então é importante que cheguemos neles”, disse.
Gil explicou que a área de Cidadania Cultural é muito nova na SMC. “Ela vem com o propósito de expandir o acesso aos programas de cultura da cidade, principalmente nesses territórios onde o acesso às diferentes políticas públicas, seja de saúde, educação ou de cultura, como é o caso, estão mais fragilizadas”.
Segundo Gil, os programas que promovem uma parceria entre os grupos que produzem ações culturais e o poder público também são muito recentes e acontecem na cidade de São Paulo e no país em torno de 10 anos.
“Esse encontro, do poder público apoiar esses grupos, é muito recente. Antes disso, havia a ação direta, e isso continua existindo, onde se contratava um espetáculo ou se promovia uma ação direta do poder público, como é o caso das Casas de Cultura e do Sistema Municipal de Bibliotecas. Outra coisa que vai existir antes disso é a Lei Rouanet e outras leis de incentivo nos níveis federal e estadual. Essa nova lógica de produção cultural é muito recente e muito experimental”.
O coordenador do Núcleo de Cidadania Cultural também falou com os/as jovens sobre as tensões entre as Belas Artes e as Culturas Tradicionais e Populares e da importância de ser realizado um mapeamento sociocultural para distribuir de forma igualitária os recursos e projetos culturais para áreas mais necessitadas da cidade. Além disso, Gil disse que a cultura contribui para a transformação da identidade de um povo.
“As classes dominantes têm muita clareza do que cultura significa no sentido mais amplo, e não só de acesso às artes, mas como formação de um povo. O que transforma esse amontoado de gente nessa sala, na cidade de São Paulo ou no Brasil em um povo? A sua cultura”.
Gil finalizou o encontro dizendo que a cidadania precisa ter uma visão integral da cultura e das artes. “O importante é termos a ideia de que cidadania não é uma coisa estanque, à parte, separada. A cidadania tem que pensar na justiça social a partir de todos os elementos possíveis, inclusive das artes eruditas”.
O Programa Jovem Monitor/a Cultural (PJMC), desenvolvido pelo Instituto Pólis, deu prosseguimento ao eixo de Juventudes e Direito à Comunicação no dia 23 de março recebendo em sua formação teórica jornalistas para discutirem temas como mídia e gênero e democratização dos meios de comunicação.
No período da manhã, estiveram presentes as jornalistas Terezinha Vicente, da Rede Mulher e Mídia e da Ciranda Internacional da Comunicação Compartilhada, e Juliana Gonçalves, do Centro de Estudos das Relações do Trabalho e Desigualdades (CEERT) e integrante da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (COJIRA).
Terezinha iniciou o encontro mostrando como se constituíram na cultura hegemônica o poder da informação e a opressão das mulheres, apresentando os contextos históricos do direito à comunicação e de como as mulheres foram enxergadas em determinados períodos da história. Foi feito, também, um resgate do movimento feminista e de como os meios de comunicação retratam as mulheres.
Nas telenovelas, Terezinha identificou que as personagens “heroínas” são retratadas sob aspectos de maternidade, família, religiosidade e sacrifício. Enquanto as retratadas como pessoas de sexualidade livre, são as “vilãs”, que têm como destino na trama a morte, a solidão ou a “loucura”. Já nas propagandas, existe uma beleza única. São apresentadas somente mulheres que refletem o padrão de beleza eurocêntrico dominante: brancas e magras, geralmente heterossexuais. Terezinha citou as propagandas de cerveja como exemplo da mídia para hiperssexualizar o corpo feminino.
“Gostaríamos que nossa televisão mostrasse mulheres de todos os tipos, de todas as orientações sexuais, que mostrasse mais nossa mulher real”, afirma.
Juliana Gonçalves conversou com os/as jovens sobre a construção da mulher negra na mídia de massa. Segundo ela, a mídia não adota uma perspectiva de raça, etnia e gênero. “Ela [a mídia] invisibiliza de forma sistemática a contribuição e a participação das mulheres, em especial das negras, indígenas, lésbicas e transexuais. Isso se dá por uma combinação de fatores como racismo, sexismo e etnocentrismo”.
De acordo com Juliana, a mulher negra retratada hoje pela mídia segue estereótipos historicamente construídos e se limita ao imaginário exótico. Ela identifica alguns perfis pejorativos: a “mulata” (termo derivado da palavra “mula”), cuja sexualidade é exacerbada; a “mãe preta”, sempre disponível para servir; e a “barraqueira”, que resolve os conflitos na força e não usa o intelecto. “Esses estereótipos acabam limitando o lugar social da mulher negra”, disse.
Juliana, que também participa do Núcleo Impulsor do Estado de São Paulo da Marcha das Mulheres Negras, falou sobre a Marcha das Mulheres Negras 2015 que será realizada no dia 18 de novembro, em Brasília. “Essa marcha pretende unir a mulher negra e pautar toda nossa trajetória de resistência e ancestralidade”.
Em seguida, Terezinha e Juliana desenvolveram uma atividade com os/as jovens monitores/as na qual puderam dizer como se viam representados/as pela mídia e como gostariam que fosse essa representação.
Exercitando o diálogo
Michelle Prazeres, mestre em Comunicação e Semiótica (PUC-SP), doutora em Educação (FE-USP) e integrante do grupo Intervozes, esteve no período da tarde com os/as jovens e desenvolveu uma atividade de espectograma para mapear os hábitos de consumo e de produção de informação/comunicação. “Tentamos entender com que frequência eles [jovens] acessam os meios de comunicação pra se informar e se comunicar”.
A jornalista, que também é professora da Faculdade Cásper Líbero, falou sobre a construção do direito à comunicação e sobre a diferença entre liberdade de expressão, direito à comunicação e democratização dos meios.
“Se tivesse que construir uma escala, eu diria que a liberdade está ligada mais aos direitos individuais, a liberdade de se expressar. Quando falamos em democratização, falamos em acesso pra todo mundo. E quando falamos em direito, falamos em o Estado garantir que a sociedade reivindique”, explica.
Após um debate, Michelle conduziu uma dinâmica com base numa metodologia de tribunal, onde os/as jovens foram divididos em grupos (acusação, defesa e júri) e, a partir de dois casos de violação de direitos humanos na mídia, puderam expor seus argumentos, que foram levados para uma roda de conversa para que fosse exercitado o diálogo.
“Queríamos que eles [jovens] chegassem à conclusão de que é muito importante estar aberto ao argumento e ao lugar do outro, ainda que precisemos disso para reafirmar a nossa posição nesse processo tão importante hoje em dia, e que sempre foi, que é o de estabelecer diálogos, principalmente quando falamos sobre direitos”, finaliza.
Jovens Monitores/as Culturais da Ação Educativa e do Instituto Pólis dialogaram com o poder público sobre o programa e sobre as políticas culturais da cidade
No dia 13 de abril, em comemoração ao Dia do Jovem, participaram da formação teórica do Programa Jovem Monitor/a Cultural (PJMC) o prefeito Fernando Haddad e o secretário municipal de cultura Nabil Bonduki. O encontro aconteceu no auditório da Fundação Nacional das Artes (Funarte), em São Paulo, e contou com apresentações musicais e poéticas dos/as monitores/as. A mediação ficou por conta de Ingrid Soares, ex-jovem monitora cultural e hoje gestora de redes do Centro Cultural da Juventude (CCJ). Entusiasmada, ela ressaltou seu desejo de que “todos um dia virem gestores culturais de fato”.
A Prefeitura planeja ampliar o programa para as Casas de Cultura, que foram reintegradas à administração da Secretaria Municipal de Cultura (SMC), em 2014. Anteriormente, esses equipamentos faziam parte da Secretaria Municipal de Coordenação das Subprefeituras. Tal ampliação foi reforçada pelo secretário Nabil Bonduki. A expansão do programa tem acontecido desde 2013, culminando, ao final de 2014, com 190 jovens atuando em diversos equipamentos.
Haddad falou da importância da cultura na sociedade brasileira e sua centralidade para a capital paulista, chamando atenção para o seu papel na consolidação do respeito à diversidade. “A cultura sempre foi importante e sempre será, mas faz tempo que ela não é tão necessária quanto hoje, para garantir que não haja retrocesso no Brasil”, afirmou.
A gestão dos equipamentos públicos conquistaram centralidade quando Haddad tratou do impacto social das ações culturais. Para o prefeito, é fundamental ressignificar os locais de atuação dos jovens. “A ideia é que vocês [jovens monitores/as culturais] tenham uma formação cultural, um espaço para reflexão, interagindo com os gestores dos equipamentos para promover uma reocupação, uma repaginação, uma reorientação desses equipamentos, até pela experiência que vocês trazem”, disse.
“Acho esse programa excepcional. Nem todo gestor cultural é um artista, mas hoje fica cada vez mais difícil um artista não ter noções de gestão cultural”, afirmou Haddad sobre o PJMC.
Ao parabenizar os/as jovens monitores/as culturais pela atuação, o prefeito afirmou sua convicção de que “precisamos apostar na cultura, que é o que vocês [jovens monitores/as culturais], mais do que qualquer outra camada da sociedade, acreditam, porque ela tem um potencial não só de transformação, mas de resistência”.
(Foto: Carlos G.off/JMC)
Cultura em crescimento
Para o secretário de cultura Nabil Bonduki, a área é uma das que mais crescem do ponto de vista econômico e é preciso formar gestores/as culturais qualificados/as e que possam atuar em diversos lugares do país, a partir de diferentes contextos. Ele ressaltou que a experiência prática dos/as jovens monitores/as culturais é importante para que os equipamentos culturais funcionem de maneira mais orgânica com o território. “A ideia do Programa Jovem Monitor/a Cultural não é simplesmente a ideia de um estágio, onde a pessoa trabalha. A ideia é de um programa que tenha uma formação teórica, de debate, ao mesmo tempo de um processo de atuação no equipamento. Isso é muito importante para quem está se formando. Vemos hoje no país uma demanda muito grande por gestores/as culturais e, no fundo, esse programa cumpre várias finalidades”, disse.
(Foto: Rogério Fonseca/CCJ)
O secretário tratou de temas como o orçamento da SMC, seus departamentos e áreas. Como urbanista, trabalhou na relação entre cidade e cultura, reforçando a importância do/a “jovem atuar no equipamento, conhecendo as políticas e fazendo uma ação que não é simplesmente o exercício de uma única atividade”.
Os/as jovens puderam dialogar com o secretário trazendo inúmeras questões para reflexão, como o andamento do processo de ampliação do PJMC, a importância de assegurar os direitos desses/as jovens e o acesso efetivo daqueles/as de baixa renda, a reflexão em torno de uma política de cotas dentro do programa, dentre outras questões. Também fizeram perguntas sobre a atuação no campo cultural e a concepção e execução de políticas públicas desse universo. “Depois dessa formação rica que nós temos, tanto teórica, quanto prática, como vocês pensam esse jovem daqui três ou quatro anos? Como vocês pensam nossa atuação na cidade?”, perguntou Juliana Gervaes, jovem monitora cultural da Produção do Departamento de Expansão Cultural (DEC). O secretário espera que o tempo de atuação no Programa Jovem Monitor/a seja relevante para a profissionalização em gestão cultural, produção cultural e até na atuação dos jovens enquanto artistas. “Que essa experiência seja importante, que os capacite para poderem atuar, seja na Prefeitura ou em outros lugares”.
(Foto: Carlos G.off/JMC)
Programa Jovem Monitor/a Cultural
O encontro reuniu pela primeira vez todos/as os/as jovens das instituições conveniadas. Atualmente, os/as 126 jovens que recebem formação da Ação Educativa atuam no CCJ – Centro Cultural da Juventude, nas bibliotecas municipais, no Museu da Cidade/Solar da Marquesa, OCA do Parque Ibirapuera e Arquivo Histórico. Já o Instituto Pólis realiza a formação de 60 jovens que atuam no Centro Cultural da Penha (CCP), Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes (CFCCT), teatros distritais, Cidadania Cultural, Fomentos e outros setores do Departamento de Expansão Cultural (DEC).
Criado pela Lei Municipal 14.968/09 e regulamentado pelo Decreto Municipal 51.121/09, o PJMC se realiza através de 30 horas semanais remuneradas, sendo 24 de formação prática, executadas em equipamentos públicos da SMC, e 6 de formação teórica, na qual são promovidas leitura, discussão e produção de textos, visitas monitoradas, elaboração de projetos e participação em oficinas.
De acordo com Alexandre Piero, ex-diretor do CCJ, entre seus desafios e perspectivas estão a valorização da sua dimensão formativa, sua compreensão enquanto programa de formação pelos equipamentos culturais e sua expansão para novos espaços da SMC, integrando-o também com outras políticas, como o Pronatec Cultura.
Iniciando o eixo de Juventudes e Direito à Comunicação, o Programa Jovem Monitor Cultural (PJMC) desenvolvido pelo Instituto Pólis recebeu no dia 16 de março Thiago Borges, um dos criadores do site Periferia em Movimento, e Marina Lopes, correspondente do Blog Mural na Folha de S. Paulo.
De manhã os/as jovens participaram de uma oficina de Introdução à Comunicação e Democratização da Mídia com o jornalista e assessor de comunicação do PJMC no Pólis, Leandro Fonseca. Os/as participantes também aprenderam como elaborar uma matéria ou reportagem a partir de técnicas de redação jornalística.
No período da tarde foi realizada uma roda de conversa sobre jornalismo comunitário, onde foi dada continuidade às discussões sobre democratização da mídia, direito à comunicação e mídias alternativas.
Para Marina, o jornalismo ainda possui um limite geográfico para dizer o que merece ou não ser noticiado. Recorte, esse, que muitas vezes foca o centro da cidade. Além disso, acredita na existência de estereótipos quando se fala de periferia. “Muitas notícias sobre periferia falam sobre violência e crime, propagando uma visão estereotipada de que ela é um lugar cheio de problemas. Nós, moradores de periferia, temos problemas, mas também temos coisas boas que não são faladas”.
Também foram discutidas questões referentes à liberdade de expressão. Segundo Thiago, o direito de se comunicar implica em responsabilidades. “Hoje, todos possuem acesso às mídias sociais, mas isso não significa que não existam responsabilidades sobre o que está sendo publicado”.
Após a roda de conversa as/os jovens foram divididos em grupos por região de atuação (zonas norte, sul, leste, oeste e centro). Thiago Borges, Marina Lopes e Leandro Fonseca auxiliaram os grupos a produzirem pautas relacionadas ao território e aos equipamentos onde estão inseridos. No decorrer do programa as pautas serão desenvolvidas e delas serão produzidas matérias e reportagens.
Periferia em Movimento e Blog Mural
Criado em 2009 juntamente às jornalistas Aline Rodrigues da Silva e Sueli Carneiro, o Periferia em Movimento surgiu na época em que Thiago cursava jornalismo. O site não só divulga ações sociais e culturais das periferias, como também produz reportagens e entrevistas.
“A nossa luta é por mais espaço para as pautas das periferias na grande imprensa. Que existam mais veículos de comunicação nas periferias e que tenham mais moradores de periferias contando suas próprias histórias”, comenta Thiago.
Já o Blog Mural foi idealizado por Bruno Garcez em 2010 e é fruto de uma parceria do jornal Folha de S. Paulo com a International Center for Journalists (ICFJ) e surgiu como um projeto multimídia focado na formação e treinamento de correspondentes comunitários. Desde 2010 é hospedado no site da Folha.
De acordo com Marina, o principal foco do Mural é a cobertura local. “Acreditamos que faz toda a diferença ter o conhecimento do território, não só no jornalismo, mas em tudo. Pensando na atuação dos monitores culturais, é muito importante existir uma relação com a comunidade”.
Hamilton Faria, poeta e coordenador de Cidadania Cultural do Instituto Pólis, foi um dos cinco brasileiros convidados a participar do evento internacional Cumbre Mundial Arte, Cultura e Paz. Realizado entre os dias 6 e 11 de abril em Bogotá, o evento alcançou milhares de pessoas: no último dia, foram contabilizados mais de 10 mil inscritos e 500 convidados internacionais.
Sob a organização do Instituto Distrital de las Artes – Idartes, o objetivo do encontro foi reunir artistas e pensadores do mundo todo para que suas forças contribuíssem artisticamente a empreitada de reestabelecer a paz na Colômbia. Diversos temas foram abordados durante os seis dias de discussão, dentre eles Arte e Cultura na construção da paz, Territórios e Cultura de Paz, Reparação Cultural e Simbólica e Memórias, Relatos e Comunicação. Além disso, a programação da Cumbre contou com 150 processos artísticos, 28 apresentações teatrais, 12 exibições cinematográficas e diversas exposições de artes plásticas.
Hamilton participou de duas mesas de debate e do Encontro Cultura Viva Comunitária na América Latina e Cultura de Paz. Em uma caminhada pela paz, que reuniu mais de 300 mil pessoas e vários movimentos sociais do país, estiveram presentes personalidades como o presidente da República, o prefeito de Bogotá, Jorge Blandon, artista colombiano, Ivan Nogales, diretor de teatro boliviano, Maradona e Estela de Carloto, ativista da luta pelos direito humanos e presidente da associação argentina Avós da Praça de Maio.
Os projetos do Instituto Pólis também receberam atenção no evento. Hamilton ministrou para 30 pessoas, dentre coordenadores de ONGs e universitários, uma longa conversa sobre o Projeto Litoral Sustentável, apontando seus benefícios e atuais avanços no desenvolvimento das praias paulistas. No mesmo dia, ele se apresentou em uma leitura poética na Vila Guadalupe, na qual diversos autores de Medellin interagiram.
O coordenador de Cultural também foi surpreendido durante a viagem: nos últimos dias, em meio a um almoço na Corporación Nuetra Gente, jovens e artistas o homenagearam com o prêmio Gallo Casa Amarilla.
Em sua volta ao Brasil, Hamilton se mostrou animado com a experiência e feliz com todos os exercícios à cultura de paz proporcionados pela Cumbre colombiana: “Não posso revelar com palavras o que aconteceu na Colômbia, um país incrível, com cultura por todos os lados.”
No dia 09 de março, dando continuidade à formação teórica do eixo de Políticas Públicas de Cultura, Juventudes e Território, os/as jovens monitores/as culturais do Programa Jovem Monitor/a Cultural (PJMC) desenvolvido pelo Instituto Pólis participaram de duas rodas de conversa sobre a construção da saúde da mulher e a participação política e acesso da juventude à cultura, lazer e meios de informação e comunicação.
Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, as integrantes da Capulanas Cia. de Arte Negra, Adriana Paixão, Débora Marçal, Flávia Rosa e Priscila Preta Obaci, estiveram presentes no período da manhã trazendo as experiências sobre o processo de criação do grupo.
Foi exibido o documentário “Sangoma”, que reflete sobre as diversas violências sofridas pelas mulheres negras, assim como suas estratégias de libertação, tendo como base espetáculo homônimo. Após a exibição foi discutida a temática a partir das perguntas, observações e comentários dos/as jovens monitores/as.
“O documentário faz parte da pesquisa para a peça ‘Sangoma’. Nesse material, coletamos depoimentos e tentamos mostrar o quanto anda a questão da saúde nas instituições públicas e o quanto o processo racismo adoece o físico, o emocional, o psicológico e o espiritual da população negra”, conta Adriana Paixão.
Para Priscila Preta Obaci, é difícil produzir arte e cultura negra em uma sociedade que, segundo ela, vive um “grande boom” de intolerância religiosa. “A intolerância religiosa é mais um dos mecanismos do racismo, de demonizar nossas formas de manifestar a nossa fé. Isso se reflete em nossas práticas artísticas”.
Agenda Juventude Brasil
Já no período da tarde os/as jovens participaram de outra roda de conversa a partir dos dados da Pesquisa Agenda Juventude Brasil apresentados por Anna Luiza Salles Souto, coordenadora de Juventudes do Instituto Pólis. A pesquisa, iniciativa da Secretaria Nacional de Juventude (SNJ), foi realizada em 2013 e revela o perfil da juventude no que toca a cor/raça, religiosidade, escolaridade, percepção sobre a participação política, uso do tempo livre, etc.
De acordo com a pesquisa, no que concerne à distribuição por local de moradia, 85% dos/as jovens moram na área urbana e 15% na rural. Sobre atividades de lazer e entretenimento aos finais de semana, 19% dos moradores/as das capitais e 9% do interior se dedicam a atividades culturais. Ainda sobre essa questão, 50% das mulheres e 39% dos homens têm por hábito realizar atividades dentro de casa nos finais de semana.
Também foram discutidos os motivos que fazem com que os jovens de hoje se sintam mais capazes de transformar o mundo do que há 10 anos. Dentre as hipóteses estão o aumento das políticas públicas para a juventude, o acesso aos meios de informação e o estímulo à experimentação. Um dos dados da pesquisa apontou que 54% dos/as jovens acham a política muito importante. Para Anna Luiza, o encontro serviu para ouvir os/as jovens sobre os dados apresentados. “A ideia dessa oficina não foi trazer dados com uma leitura pronta e apresentar o olhar dos especialistas, mas trazer os dados brutos e debater sobre eles. Os monitores são a nova geração, a pesquisa fala sobre eles e com eles. Muitas vezes ao se apresentar pesquisas sobre a juventude, pouco se pede a opinião dos jovens a respeito dos dados que falam da sua geração. Quisemos romper com isso e abrir espaço para eles fazerem a leitura dos resultados dessa pesquisa”.
A Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, determina como crime a “discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”. No entanto, o racismo e outras formas de discriminação ainda existem.
Para abordar e discutir o assunto, participou da formação teórica do Programa Jovem Monitor (PJMC) no Instituto Pólis, no dia 02 de março, o educador popular Gerson Brandão, também articulador do Plano Juventude Viva, pesquisador do Instituto Pólis, membro do Koletivo Filhos do Abassá (Kofilaba) e graduando em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Brandão desenvolveu uma atividade onde as/os jovens monitores puderam, em grupos, identificar situações de preconceito, discriminação, extermínio, genocídio, racismo, epistemicídio, racismo institucional e feminicídio em seus cotidianos. Ele apresentou as definições de todos esses conceitos, relacionando-as com as situações narradas pelas/os jovens.
Genocídio e extermínio da população negra
O preconceito é internalizado, segundo ele. Já a discriminação determina as relações que um indivíduo estabelece em sua vida. Os conceitos de genocídio e extermínio costumam aparecer juntos, mas possuem diferenças, de acordo com Gerson. “Quando se fala em extermínio, falamos especificamente da morte do corpo, programada dentro de um processo sistemático. A cada dez jovens mortos no Brasil, sete são negros, independente de estarem envolvidos ou não na criminalidade”, explica. Já o genocídio é o conjunto de todas as violências do racismo, como o extermínio e o epistemicídio.
Segundo ele, existe um processo de aniquilação de jovens negros no país. “O Brasil não tem pena de morte, então entende-se que esse processo é de extermínio, porque é definido o jovem negro como sujeito preferencial de ação no processo de formação dos agentes do Estado. É aquela história do suspeito de cor padrão”.
De acordo com a pesquisa “Participação, Democracia e Racismo?”, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 70% das vítimas de assassinatos no Brasil são negras.
África nas escolas
De acordo com Brandão, o racismo é o conceito de que existe uma hierarquia entre as raças. Nesse processo de hierarquização, o racismo promove a invisibilidade da produção de conhecimento de povos africanos presentes no dia-a-dia. A esse processo é dado o nome de epistemicídio.
A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, conhecida como Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB, foi alterada em 2003, sendo sancionada a Lei 10.639 que torna obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas públicas e privadas de ensino fundamental e médio. Para Gerson, as escolas não se esforçam para implementar essa lei, impossibilitando a construção de relações étnico-raciais mais positivas entre as pessoas e não contribuindo com outras visões de mundo no espaço escolar.
“Existe uma resistência dos pais e de alguns alunos e vem todo aquele processo de demonização, ou quando os próprios professores não se propõem [a implementar a Lei], porque não acham interessante”, afirma.
O racismoinstitucional, de acordo com Gerson, abarca a ideia da ausência de efetividade das ações de enfrentamento às desigualdades por parte do Estado e também de empresas. “Por um lado o Estado é omisso. Do outro, assume uma postura de criminalizar o preto e a preta”, afirma.
Ele cita como exemplo o atendimento desumano dado às mulheres negras em trabalho de parto, quando a equipe médica aplica uma quantidade menor de anestesia, na ideia de que negros são mais “resistentes”. “Existe uma construção social que diz: ‘o papel dos pretos na sociedade é braçal, eles têm uma estrutura corporal mais forte’. Logo, faz todo sentido não ter uma relação mais humana com esses cidadãos no atendimento hospitalar”.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, 60% das mães mortas durante partos no Sistema Único de Saúde (SUS) são negras.
“O feminicídio pode ser entendido enquanto os processos de morte das mulheres pela sua condição de mulher. No caso do tema da conversa com os/as agentes, incluí o feminicídio enquanto um dos marcadores da condição da mulher negra também”, pontua.
“Debate racial não pode ser só dos negros”
Também esteve presente na formação teórica o cineasta e poeta Akins Kintê, vencedor do I Festival de Poesia da Cidade de São Paulo. Ele apresentou seu primeiro documentário, “Vaguei os Livros, Me Sujei Com a Merda Toda”, realizado em 2007. O trabalho aborda a ausência de personagens e autores negros na literatura difundida nas escolas.
Para Akins, é sempre importante o assunto ser discutido. “A luta contra toda forma de preconceito tem que ser feita todo dia. Temos que nos vigiar sempre, expulsar esse opressor que mora dentro de nós, que a toda hora nos invade através do que consumidos diariamente. O debate racial não pode ser só dos negros. Tem que ser um debate de Brasil, nacional. Todo mundo tem que participar”, diz.
Com o tema Utopia e Realidade, o encontro Refletir Brasil será realizado nos dias 27 e 28 de abril no IED (Istituto Europeo di Design), localizado no bairro paulista Higienópolis. O evento terá a participação de Domenico de Masi, sociólogo italiano e diretor da consultoria social S3.Studium, para debater novos meios de aumentar a produtividade humana e adequar o trabalho às exigências de um viver pós-moderno.
Além Masi, a presença de diversos líderes organizacionais como Frei Betto, Daiane dos Santos, Lais Bodansky, Washington Olivetto, Florestan Fernandes Jr. e Ladislau Dowbor estão cotadas para os dois dias de palestras.
Essa terceira edição foi elaborada com o objetivo de dar continuidade à ideia de um Brasil distante dos estereótipos lançada no encontro de 2013. Para esse ano, a organização do evento espera tocar em questões que alimentem a produção de novas alternativas voltadas a melhoria da qualidade de vida de todos os cidadãos.
Para acessar a programação completa do encontro, basta acessar o site do Refletir Brasil . Os interessados podem realizar suas inscrições através do link.