A comparação entre as áreas mais impactadas por Covid-19 e as áreas que concentram ameaças ou remoções revela algumas semelhanças. Em algumas regiões há sobreposições, tanto em relação às concentrações de óbitos, quanto às áreas com altas taxas de mortalidade, demonstrando camadas de vulnerabilidades às quais os moradores destes territórios são expostos. O perfil socioeconômico das áreas com ameaças ou com remoções é caracterizado pela presença de famílias cuja renda média domiciliar é consideravelmente inferior à média municipal, com um percentual maior de domicílios de baixa renda chefiados por mulheres e acesso abaixo da média à água encanada e esgotamento sanitário. Além de ser predominantemente composto por pessoas pretas e pardas que, por sua vez, representam o grupo populacional com as maiores taxas de mortalidade por Covid-19 desde o início da pandemia.
Essa constatação faz parte do estudo recém-publicado pelo Pólis, cujo objetivo é investigar as camadas de vulnerabilidade às quais as famílias ameaçadas constantemente de remoção estão expostas em meio à crise sanitária, na qual a moradia adequada é uma estrutura básica fundamental para proteger a si e as demais pessoas da contaminação pelo vírus. Para saber mais, veja o estudo na íntegra aqui.
Ao longo de 2020 e 2021, dados sobre hospitalizações, óbitos e vacinação foram reunidos em análises que propuseram fazer leituras urbanas sobre a pandemia na cidade. Além de mapear seus impactos, notadamente desiguais no território e nos diferentes grupos populacionais, esses estudos também buscaram demonstrar a importância de certas estratégias para o adequado monitoramento epidemiológico, controle do contágio e preservação da vida, primando pela redução das iniquidades sociais e pela afirmação de direitos.
Este novo estudo faz um balanço sobre os dados da mortalidade por Covid-19 no Município de São Paulo (MSP) entre 2020 e 2021 e tem como objetivo sintetizar leituras acerca da pandemia na capital paulista, como forma de reforçar algumas recomendações centrais para o enfrentamento da emergência sanitária, que acelerou seu crescimento na nova onda de contágios e mortes.
Pesquisas do Instituto Pólis são premiadas pelo IAB/SP! Ontem (15), aconteceu a entrega das premiações em uma edição que comemorou o centenário da entidade. A série de estudos produzida pelo Pólis, “Covid, Raça e Território”, foi premiada em uma categoria em que foram avaliados projetos, obras, planos, planejamento territorial, ativismo urbano. Essa categoria, “Urbanismo, planejamento e cidade”, teve Raíssa Albano, Paula Santoro e Mariana Chiesa como júri. Nossos estudos também teve um destaque especial em “Cidades saudáveis – ações de enfrentamento à Covid-19”. A proposta dos estudos focou em como medir o impacto desigual da epidemia de COVID-19 na cidade de São Paulo, observando os diferentes grupos populacionais definidos por raça/cor. Medir os impactos desiguais da Covid-19 na cidade envolve vários desafios técnicos e metodológicos. Produzir dados e análises para incidir sobre ações concretas e políticas públicas durante a pandemia, isto sim, é a dificuldade mais desafiadora desta iniciativa do Instituto Pólis, que iniciou estudos territoriais sobre o novo coronavírus desde o início da crise em 2020. A dimensão territorial da pandemia na cidade de São Paulo é ilustrativa de como a crise sanitária revela, e também agrava, as iniquidades sociais, demonstrando que seus efeitos não se dão uniformemente no espaço urbano. As leituras propostas especializaram dados sobre mortalidade, trabalho das vítimas, hospitalizações, vacinação, sempre buscando indicadores sobre raça, gênero, renda e vulnerabilidade social, como método para complementar e complexificar as análises. E, mais do que isso, as análises territoriais propostas pelo Pólis sobre os indicadores da Covid-19 são ferramentas importantes para o adequado monitoramento epidemiológico, que subsidiaram o debate público e tentaram auxiliar, de forma crítica, tomadas de decisão no combate à pandemia (de autoridades, de representantes em espaços de participação social, de lideranças sociais, etc).
Confira as pesquisas disponíveis na seção “estudos”.
Novo estudo realizado pelo Instituto Pólis mostra que grande parte das vítimas fatais de Covid-19 em São Paulo, entre março de 2020 a março de 2021, é de profissionais que não concluíram a educação básica, e que não interromperam as atividades. De acordo com os números da pesquisa, pedreiros, empregadas domésticas e motoristas de carros de aplicativo estão entre as ocupações mais afetadas pela doença.
O estudo utilizou informações sobre os óbitos por Covid-19 na cidade de São Paulo entre março de 2020 e março de 2021. Os dados foram coletados do SIM PRO-AIM (Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade), coordenado pela Secretaria de Saúde do Município de São Paulo. A partir dessas informações, o Pólis identificou 737 ocupações das vítimas, classificadas de acordo com o código CBO (Classificação Brasileira de Ocupações), e as organizou em categorias de atividades, agrupadas segundo o setor econômico, tipo de atuação, nível de exposição do trabalhador e possibilidade de trabalho remoto.
A fim de detectar características em comum das pessoas envolvidas naquelas atividades mais atingidas, também foram analisadas informações sobre a escolaridade, faixa etária, local de residência, raça e sexo das vítimas. Durante o período analisado, foram registradas 30.796 mortes por Covid-19 em São Paulo. Destes, 23.628 (76,7%) foram de pessoas que não completaram o ciclo de educação básica, ou seja, tinham 11 anos ou menos de estudo. Considerando a escolaridade das vítimas como uma proxy sobre seu padrão de renda, os dados confirmam que a mortalidade de Covid-19 é maior entre trabalhadores e trabalhadoras mais pobres.
É preciso conhecer a fome para descrevê-la, dizia Carolina Maria de Jesus. Para ela, a fome era amarela e empalidecia tudo ao redor: o céu, as árvores, as aves, todas as cores se desbotavam diante de seus olhos. Nas palavras da poetisa, a sensação de ter somente ar no estômago era como um soco que lhe atingia em cheio. Carolina escreveu o diário “Quarto de Despejo”, que posteriormente se tornaria um livro, entre 1955 e 1960, mas suas palavras e sentimentos ainda reverberam na atualidade. Hoje, a realidade vivida por ela, décadas atrás, é compartilhada por ao menos 19 milhões de brasileiros que sobrevivem à fome, além de outros 116 milhões que encontram-se em situação de insegurança alimentar, ou seja, com o acesso a uma alimentação devidamente adequada reduzido.
Em virtude disso, e dos poucos esforços do governo para erradicar as desigualdades descortinadas pela pandemia. Muitas entidades e coletivos se reuniram para criar campanhas solidárias, na intenção de ajudar famílias em situação de vulnerabilidade social a atravessar este momento de pandemia. A seguir, separamos algumas destas campanhas abaixo:
Sem casa e com fome Campanha feita pela União dos Movimentos de Moradia de São Paulo (UMM-SP), para distribuição de cestas básicas às famílias vulneráveis em ocupações urbanas, favelas, cortiços e mutirões: https://bit.ly/3tWRfc9
Consciência Negra é ajudar a quebrada a se manter viva Campanha de apoio permanente para famílias negras e periféricas, feita pela Uneafro para distribuição de cestas básicas e itens de higiene em 44 territórios do país: https://bit.ly/3bCzdp4
Crédito Comunitário Contra a fome Campanha organizada pela União por Moradia Popular da Bahia (UMP-BA), para criação de uma moeda comunitária destinada às famílias ocupantes da obra do Condomínio das Mangueiras, em Salvador: https://bit.ly/3bExJLf
Bixiga Sem fome Campanha para distribuição de cestas básicas e marmitas pela região do Bixiga e proximidades. As doações podem ser feitas via PIX, PicPay ou nos pontos de arrecadação. Veja mais informações abaixo:
Se tem gente com fome, dá de comer! Campanha nacional de arrecadação de fundos para o enfrentamento a fome, a miséria e a violência durante a pandemia: https://www.temgentecomfome.com.br/
Cesta Básica para os Camelôs Campanha feita pelo Movimento Unido dos Camelôs para distribuição de cestas básicas e itens de higiene para camelôs do Rio de Janeiro: https://bit.ly/3f20tzC
A população do Bom Retiro precisa de você! Feita pela Rede Cuide do Bom Retiro, os valores arrecadados serão destinados às iniciativas que beneficiam pessoas em situação de vulnerabilidade no território do Bom Retiro e região: https://benfeitoria.com/bomretiro
Para conferir mais iniciativas e campanhas, confira o mapa interativo criado pelo Fundo solidário Rede de Apoio Humanitário ao combate da Covid-19. Nele, é possível encontrar outros lugares, coletivos e organizações da cidade de São Paulo que estão arrecadando valores para distribuição de cestas básicas, clique aqui.