O Observatório Litoral Sustentável produziu uma série de animações para facilitar o entendimento de temas complexos, nem sempre acessível para a população em geral. Desta vez, o material produzido trabalha a compensação ambiental, uma maneira de diminuir os impactos gerados por grandes empreendimentos no litoral paulista.
Faça o download gratuito da publicação que traz a visão de moradores de comunidades tradicionais sobre a implementação da preservação em seus territórios
“Como que a gente consegue sair de tanta coisa que vem em cima da gente de cima para baixo?”, afirma Tatiana Mendonça, moradora e liderança da comunidade da Enseada da Baleia, em reunião que originou a publicação Caderno Temático Direito dos Povos e Comunidades Tradicionais em territórios protegidos, publicada pelo Observatório Litoral Sustentável. A reunião aconteceu em julho deste ano, quando se realizou o Encontro Regional sobre Direitos de Povos e Comunidades Tradicionais em Espaços Territoriais Especialmente Protegidos, onde atores de comunidades tradicionais, da sociedade civil e de órgãos políticos discutiram a situação que diversas populações enfrentam atualmente ao serem retiradas de suas localidades, que se transformam em áreas de preservação.
“Moro na Ilha dos Búzios, nasci ali em 1962. Vivíamos da pesca, não se falava de preservação. A gente plantava. E hoje, em todo o costão, temos as mesmas dificuldades, pois as terras se tornaram áreas de preservação. Não tem praia, não tem o turismo. Não pode isso, não pode aquilo. Só pergunto uma coisa para as autoridades aqui presentes: porque a gente não pode e os de fora podem?”, questiona Dona Benedita Rodrigues, liderança caiçara, pescadora, moradora da comunidade Ilha dos Búzios, Ilhabela, sobre as imposições territoriais calcadas pelos governos sem a devida atenção e participação social nos processos decisórios.
A publicação também traz detalhadamente as nuances do conflito existente na região Jureia-Itatins, em Peruíbe. Embora tenha seus direitos garantidos tanto pela Constituição Federal quanto pela Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável de Povos e Comunidades Tradicionais, a população de Jureia “enfrenta cotidianamente conflitos sociais e jurídicos causados por políticas de conservação ambiental restritivas e autoritárias, que desconsideram seus direitos e vem privando-a dos meios de produzir e viver em seus territórios tradicionais”.
Além disso, a publicação traz uma análise antropológica, dos modos de vida e a relação com as localidades, através das falas de Rodrigo Ribeiro de Castro, pesquisador do Laboratório de Antropologia, Territórios e Ambientes (Lata) do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de Campinas (IFCH/Unicamp). Por fim, há uma parte dedicada aos territórios especialmente protegidos, o modo de vida caiçara e os instrumentos jurídicos.
Caderno traz informações que podem ajudar a aumentar o controle social sobre a exploração de petróleo e gás natural no Litoral Paulista
Royalties: Recursos para Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável é uma publicação do projeto Observatório Litoral Sustentável, do Instituto Pólis, que traz uma série de informações sobre os royalties pagos pelas empresas exploradoras de petróleo e gás natural no Litoral Paulista aos governos locais. Porém, também apresenta um entrave: com o aumento da receita arrecadada pelos royalties a partir de 2010, novos mecanismos de gestão desse dinheiro devem ser pensados.
O objetivo dessa publicação é, a partir desse conjunto de informações, assessorar o fomento da participação social local nos processos decisórios acerca desses novos mecanismos, tais como direcionar o dinheiro dos royalties para a criação de políticas públicas, aumentar e melhorar a transparência da gestão pública e facilitar o acesso à informação. Tudo isso tende a intensificar a participação da sociedade civil “sobre a aplicação das receitas e ampliar o controle social dos orçamentos municipais”.
Além disso, a publicação traz o “Marco legal do petróleo e gás no Brasil: Reflexões sobre as possibilidades de implementação de políticas públicas”, cujo conteúdo expõe as inovações jurídicas e o marco legal para a atividade petrolífera em vigor no Brasil desde 2010, instituído pela Lei 12.351. No caderno há também um histórico da exploração petrolífera no país e um panorama sobre a Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA), que desempenha um papel de gestora contratual de partilha de produção entre as empresas exploradoras de petróleo no Pré-Sal.
Por fim, há uma explicação sobre a criação do Fundo Social. Instituído pelo marco legal para a atividade petrolífera, está vinculado à Presidência da República e têm, a finalidade de configurar uma fonte de recursos para o desenvolvimento social e regional nas áreas de saúde, educação, esporte, cultura, meio ambiente, ciência e tecnologia.
Publicações do Observatório Litoral Sustentável trazem uma série de informações que ajudam no fomento da participação social na construção de empreendimentos
Existem algumas maneiras do setor privado compensar os impactos negativos que causam ao meio ambiente. As empresas que administram a construção de grandes empreendimentos no Litoral Paulista, por exemplo, estão atreladas a dois deveres: a compensação ambiental e as condicionantes. Ambas são obrigações que responsabilizam os empreendedores pela minimização das consequências ou pelo investimento em pesquisa e conservação ambiental como uma maneira de compensar pelos recursos naturais usufruídos.
O Observatório Litoral Sustentável, através de suas instâncias Mesa de Diálogo sobre os Grandes Empreendimentos do Litoral Norte e Câmara Temática da Baixada Santista, elaborou duas publicações acerca desse debate: o Boletim Condicionantes e o Caderno Temático Recursos da Compensação Ambiental.
Ambas as publicações procuram colaborar com o fomento da participação da sociedade nos processos de construção de grandes empreendimentos no Litoral Paulista, pois essa é uma das formas da sociedade ter o controle de seus patrimônios e recursos naturais. Embora as publicações tratem da realidade daquela região, o conhecimento pode ser apropriado por qualquer lugar do Brasil que esteja passando pelo processo de construção de novos empreendimentos que esbarrem em áreas de conservação.
O Boletim Condicionantes explica que as condicionantes são obrigações que visam “evitar, mitigar ou compensar os impactos sociais e ambientais”. Nesse sentido o controle social por meio da participação em todas as etapas é essencial para a garantia desse direito. Além disso, o Boletim apresenta o que é o licenciamento ambiental e como funciona cada etapa desse processo. Ele traz ainda um mapa dos grandes empreendimentos no Litoral Paulista, que inclusive expõe área de portos e aeroportos. Nele, são elencadas as condicionantes às quais esses grandes empreendimentos são submetidos.
Já o Caderno Temático Recursos da Compensação Ambiental explica que compensação ambiental é um tipo de condicionante que trata de um investimento financeiro às Unidades de Conservação Ambiental realizado pelas empresas construtoras. O valor não precisa necessariamente ser aplicado a essas áreas, mas também nas áreas de influências afetadas pelos grandes empreendimentos. A publicação, assim como a primeira, também traz o processo de licenciamento ambiental, como as compensações ambientais são calculadas e pagas, além de explanar como se dá o processo decisório de destinação desse recurso.
Faça o download gratuito da publicação que traz subsídios sobre a gestão sustentável de resíduos sólidos no Litoral Paulista
Cerca de 71% dos municípios brasileiros, quase dois terços ou 3.951 municípios do total de 5.565, descarta os resíduos sólidos inadequadamente. Isso gera um impacto extremamente negativo no meio ambiente, seja contaminando solos, lençóis freáticos e águas ou produzindo gases de efeito estufa (GEEs), como metano. A publicação Gestão sustentável dos resíduos sólidos urbanos: alternativa de tratamento dos resíduos orgânicos, do Observatório Litoral Sustentável, do Instituto Pólis, e de autoria de Elisabeth Grimberg, coordenadora da área de Resíduos Sólidos do Instituto, tem como objetivo apresentar subsídios aos interlocutores do Litoral Norte e da Baixada Santista a fim de colaborar com a fomentação de uma outra cultura de gestão de resíduos sólidos.
Primeiramente, a publicação traz o contexto legal da gestão de resíduos sólidos, os objetivos e as prioridades, e fala sobre responsabilidade compartilhada, onde todos os geradores de resíduos deverão exercer sua responsabilidade, seja poder público, fabricantes, comerciantes, distribuidores e até consumidores.
Na parte seguinte, Resíduos sólidos no Litoral Paulista, apresenta-se a situação dos resíduos sólidos no Litoral Paulista. Em período de alta temporada, a produção de resíduos sólidos aumenta em 54%. Ubatuba, Caraguatatuba, Ilhabela, São Sebastião, Bertioga, Guarujá, Santos, Cubatão, São Vicente, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe geram até 4 mil toneladas de resíduos sólidos domiciliares a mais por dia de dezembro a março.
Por fim, o leitor encontra uma entrevista com a integrante do Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente da Baixada Santista (Gaema – BS), Flávia Maria Gonçalves. Para ela, “não dá para jogar o lixo para debaixo do tapete, é preciso enfrentar a questão”. E continua, “a gente não fez a lição de casa: melhorar a coleta seletiva e estruturar sistemas de biodigestão”.
O livro nasceu inicialmente como um estudo parte do projeto Gestão Sustentável de Resíduos Sólidos Urbanos – Uma Proposta para Itanhaém, que avalia a mudança da cultura de gestão e a necessidade de tratamento dos resíduos orgânicos realizado no município do litoral paulista, também realizada pelo Instituto Pólis, com apoio da Latin America Regional Climate Initiative (Larci).
Entrevista com Elisabeth Grimberg , coordenadora da área de Resíduos Sólidos do Instituto Pólis , veiculada no site CBN – Santos. Confira.
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Observatório Litoral Sustentável impulsiona turismo sustentável e turismo de base comunitária no Litoral Paulista
Constantemente o Litoral brasileiro sofre consequências de um desenvolvimento econômico centrado no capital financeiro e não no capital social e cultural das comunidades litorâneas. A exploração da atividade turística sazonal é uma das faces desse desenvolvimento, que frequentemente traz mudanças negativas para os moradores dessas regiões. O aumento do preço do solo urbano estimulado pela especulação imobiliária tende a expulsar as populações tradicionais de suas áreas de moradia tradicionais, pressionando, também, as áreas de conservação. Uma visão meramente utilitária dos espaços públicos gera um turismo pouco comprometido com o respeito pelas populações locais e pelo meio ambiente.
Uma das alternativas a esse modelo é o turismo de base comunitária (TBC), cujo objetivo é criar e fortalecer um vínculo entre o visitante, o território e as comunidades que nele vivem tradicionalmente, mais ligado aos conceitos de ecoturismo e turismo cultural. Aqui, a cultura tradicional e a identidade de cada região são valorizadas. Além das populações se fortalecerem ao afirmarem seu modo de vida, a iniciativa amplia o conhecimento dos vistantes e promove trabalho e renda para os moradores. Frente a isso, o Observatório Litoral Sustentável, coordenado pelo Instituto Pólis em convênio com a Petrobras, procura fortalecer as comunidades tradicionais litorâneas e a conservação ambiental no Litoral Paulista.
Existem também outras modalidades de turismo sustentável, como trilhas, esportes aquáticos e diversas atividades culturais e gastronômicas que podem ser realizadas durante todo o ano, com respeito pelo meio ambiente e pelas riquezas naturais.
É o caso da Aldeia da Boa Vista, localizada no extremo norte de Ubatuba, cuja cultura tradicional envolve características como o idioma guarani, a religião própria, a agricultura em pequena escala e a produção de artesanato. O turista que visita a região participa do seguinte roteiro: roda de conversa, pintura corporal, visita à casa de reza, apresentação de dança e música, artesanato, gastronomia e banho de cachoeira. Assim, os próprios moradores apontam quais são os atrativos para os visitantes, estabelecendo limites do que pode ou não ser, por exemplo, comercializado e explorado.
Paralelamente, o Observatório Litoral Sustentável, junto com o Fórum de Economia Solidária da Baixada Santista, a Funai e outras organizações, iniciou esse ano o curso de Turismo de Base Comunitária na Baixada Santista, que irá se alongar entre junho e agosto. A aula inaugural teve a presença do economista e especialista Paul Singer, que em sua trajetória profissional e acadêmica cunhou o termo economia solidária. O objetivo é ajudar no fortalecimento das comunidades indígenas, caiçaras e tradicionais, levando essas populações para o centro das discussões sobre o TBC. Os vídeos das aulas do curso estão disponíveis no site do Observatório. Para acessar gratuitamente os vídeos do curso, clique aqui.
Como um dos produtos desse projeto, nasceu o Mapa de Turismo Sustentável do Litoral Norte, o qual foi feito de forma participativa com a sociedade civil e poder público local, que traz informações como atrativos culturais e naturais, atividades econômicas, serviços, esportes, unidades de conservação e limites entre municípios.
Com o objetivo de discutir iniciativas de economia solidária ao redor do mundo, ocorreu entre maio e junho de 2016 a Tour Economia Social e Solidária. A Tour, realizada no âmbito do projeto SUSY – SUstainable and Solidarity economY (Economia Social e Solidária – SSEDAS, em português), percorreu doze cidades em quatro países europeus: Bulgária, Eslovênia, Croácia e Portugal. Levando exemplos de prática de economia solidária no Brasil, Elisabeth Grimberg, coordenadora da Área de Resíduos Sólidos do Instituto Pólis, ministrou 11 palestras sobre o tema Políticas Públicas e Inclusão das Cooperativas de Catadores.
Confira o vídeo elaborado pelos organizadores da Tour Economia Social e Solidária.
Leia também a entrevista na íntegra: goo.gl/3Bsxl7,Bulgária, Coleta Seletiva, Compostagem do Lixo, Croácia, Desenvolvimento Sustentável, Economia Social e Solidária SSEDAS, Economia Solidária, Eslovênia, Inclusão Social, Movimentos de Catadores, Movimentos e Cooperativas de Catadores, Políticas Públicas, Portugal, Preservação Ambiental, Projeto SUZY Sustainable and Solidarity Economy, Reciclagem, Resíduos Sólidos Urbanos, Sustentabilidade Social e Ambiental, Tour Economia Social e Solidária, Vídeos,,
Especialistas trocaram visões e experiências acerca da economia solidária ao redor do mundo
Já há algumas décadas, inúmeras experiências de Economia Solidária têm sido desenvolvidas no Brasil. São moedas sociais, cooperativas, coletivos, e diversas outras formas que se materializaram na busca de um novo modo de vida, mais justo, libertário, democrático e sustentável. Tais experiências surgem lideradas por aqueles que, ao se virem excluídos desse sistema, buscam garantir a inclusão e a participação da sociedade civil na resolução de problemas surgidos de uma economia política e socialmente desigual.
Na Europa, que luta para sair de um período de crise que se iniciou nos Estados Unidos há quase dez anos, organizações sociais se uniram no projeto SUZY – Sustainable and Solidarity Economy (Economia Social e Solidária – SSEDAS, em português). Trata-se de uma rede financiada pela União Europeia para a troca de experiências em Economia Solidária e de uma união de forças para impulsionar iniciativas nesse âmbito. O SUZY nasce para exigir políticas públicas de apoio a esses projetos e ações voltadas para a garantia de direitos políticos, econômicos e sociais. Elisabeth Grimberg, coordenadora de Resíduos Sólidos no Instituto Pólis, participou do Tour Economia Social e Solidária 2016, promovida no âmbito do projeto SUZY, que percorreu doze cidades em quatro países europeus: Bulgária, Eslovênia, Croácia e Portugal. Levando exemplos de prática de economia solidária no Brasil, Elisabeth ministrou 11 palestras sobre o tema Políticas Públicas e Inclusão das Cooperativas de Catadores.
Foram trinta e cinco dias compartilhando experiências vindas de vários lugares do mundo, do dia 20 de maio ao dia 24 de junho. Grimberg teve a oportunidade de conhecer 13 práticas de economia solidária no âmbito rural e urbano por meio de visitas técnicas. Em entrevista, a coordenadora de Resíduos Sólidos comenta sobre o tema e como foram esses dias compartilhando informações e experiências.
Instituto Pólis: O que significa a Economia Solidária?
Elisabeth Grimberg: Esse é um conceito que surge em meados da década de 90, cunhado pelo professor Paul Singer, para denominar um conjunto de iniciativas originadas na sociedade civil para a geração de trabalho e renda com gestão autônoma. Sob forma de gestão coletiva e com relações horizontais, as cooperativas garantem a distribuição igualitária dos recursos advindos dessas iniciativas.
IP: A Economia Solidária é vista como uma das alternativas de solução para a crise econômica?
EG: Acredito que cada país está se adaptando de diferentes formas. As visitas que realizei na Bulgária e na Croácia mostraram um número significativo de iniciativas de entidades atuando junto a pessoas em situação de vulnerabilidade: pessoas com necessidades especiais, idosos, pessoas de baixa renda etc. Senti que muitas dessas iniciativas têm caráter de assistência social e são fundamentais para dar suporte às pessoas, mas na visão do Pólis seriam mais exemplos de entidades que substituem o papel do Estado e não promovem exatamente a emancipação social, ainda que o valor deste trabalho seja inquestionável. Já na Eslovênia, as iniciativas apresentadas são voltadas para o questionamento do sistema capitalista e trazem ferramentas para pressionar o Estado e a União Européia, e partem principalmente dos jovens, que pautam, por exemplo, decrescimento econômico (“Degrowth), o pagamento de impostos devidos por grandes empresas (“Justice Tax”) e o comércio justo (“Fair trade”).
No caso de Portugal, pude interagir com experiências de economia solidária, como em Rio Maior, na Terra Chã, em Lisboa, no CIDAC, em Palmela, na Adrepes, onde estão acontecendo ações concretas no território, visto que há uma vitalidade e multiplicidade de iniciativas em curso. Isso embasa fortemente o argumento de que outro tecido socioeconômico é possível ser fortalecido para fazer frente à crise econômica e social que vive a Europa e a grande maioria dos países dos outros continentes.
IP: Como a presença do socialismo soviético nos países do leste influenciou o investimento em Economia Solidária no país?
EG: Na Bulgária, foi fundamental entender o impacto negativo do socialismo no que diz respeito a como foram formadas as cooperativas neste período, dado que foram impostas pelo Estado. Foi interessante esclarecer as diferenças entre a construção imposta e os processos, como por exemplo no Brasil, de criação desde a base das cooperativas, que é um dos significados de Economia Solidária – a iniciativa coletiva, autogestionária, democrática, igualitária. Foi forte constatar as marcas negativas do socialismo sobretudo sobre as pessoas mais velhas. Os jovens que se manifestaram veem alguns aspectos positivos no socialismo e são abertos ao cooperativismo. Existem, portanto, visões divergentes em relação aos benefícios e perdas no período socialista. Já na Eslovênia, os jovens de diversas instituições com os quais tive contato se colocam favoráveis ao cooperativismo e à economia solidária.
IP: O que o Tour trouxe de novo em questões relacionadas à Economia Solidária?
EG: Creio que o cruzamento de projetos que foram apresentados na Eslovênia e em Portugal, especialmente, mas também na Bulgária e Croácia poderia trazer uma nova perspectiva para a discussão de economia solidária, porque trazem para o debate internacional novos rumos para a transformação profunda da sociedade capitalista. O inovador do campo da economia solidária é a existência concreta de projetos, ações em rede e cooperativas que indicam a viabilidade concreta de desenvolvimento com base em modos de vida mais justos, libertários e ambientalmente duráveis.
IP: Qual é a realidade dos catadores de materiais recicláveis nos quatro países?
EG: Na Bulgária e Portugal, parece haver realidades similares ao Brasil, onde existem catadores avulsos que coletam recicláveis nas ruas, mas sem estarem organizados de forma associativa. Foi possível ver várias cenas, especialmente em Gabrovo, na Bulgária. Também surgiu nos debates a reflexão de que este serviço ser realizado não apenas pelas grandes empresas, em geral multinacionais, mas também por redes de cooperativas, o que geraria uma nova frente de trabalho socialmente inclusivo.
Assista também ao vídeo elaborado pelos organizadores da Tour Economia Social e Solidária:
Elisabeth Grimberg faz um balanço da Tour Economia Social e Solidária 2016 e deixa sugestões para a conciliação da preservação ambiental e da inclusão social, no âmbito da gestão de resíduos sólidos urbanos.
Com o objetivo de discutir a influência dos resíduos sólidos no clima, aconteceu na ultima quarta-feira (7) o 2º Encontro do Ciclo de Diálogos Resíduo Zero
Por Caroline Oliveira e Victoria Risso*
Resíduos sólidos, mitigação dos gases de efeito estufa (GEE) e geração de energia foi o tema do 2º Encontro do Ciclo de Diálogos Resíduo Zero, uma parceria entre Aliança Resíduo Zero Brasil e UMAPAZ, Departamento de Educação Ambiental da Secretaria do Verde e Meio Ambiente. O evento aconteceu na última quinta-feira (07) e contou com a presença de Laura Ceneviva, do Comitê Municipal de Mudanças do Clima e Ecoeconomia de São Paulo, Dimitri Auad, do Conselho Estadual do Meio Ambiente e membro da ARZB, Clauber Leite, co-promotor da ARZB, e Bruna Costa, da Empresa Biogás Ambiental. A mesa ainda teve a moderação de Elisabeth Grimberg, coordenadora de Resíduos Sólidos do Instituto Pólis e também co-promotora da ARZB.
O que embasou o Ciclo de Debates foi a necessidade de se discutir o que se tem feito e qual é o destino dos resíduos sólidos frente a interface clima. Segundo Dimitri Auad, o balanço energético entre a produção e o produto final é favorável quando se utiliza matéria prima vinda de reciclagem. Isso porque explorar mais recursos naturais para produzir os produtos demanda mais processos industriais, os quais demandam energia na retirada dos recursos, no transporte e na transformação destes. Inclusive, assim como Laura Ceneviva bem pontuou, efeito estufa e aquecimento global são diferentes. Efeito estufa é um fenômeno esperado, o problema surge com o aumento dos gases de efeito estufa e desemboca no aquecimento global desenfreado.
Da esquerda para direita: Bruna Costa, Clauber Leite, Elisabeth Grimberg, Dimitri Auad e Laura Ceneviva
Diante disso, a necessidade de uma política de bens duráveis também foi pauta do Ciclo de Debates. A questão é uma das frentes de atuação da Aliança Resíduo Zero Brasil, visto que a emissão GEE se relaciona com a produção e o manejo de resíduos sólidos. Atrelada a essa política de bens duráveis está a ideia do consumo responsável e sustentável. É essencial diminuir a produção de produtos a partir de novas matérias-primas e fomentar a produção de bens duráveis ou reciclados, uma vez que com isso diminui a demanda de processos industriais que se utilizam de energia, diminuindo também a emissão de GEE.
Dentro da esfera municipal, Laura Ceneviva fez um panorama sobre a cidade de São Paulo acerca da produção de resíduos sólidos. Segundo Laura, a perspectiva é que até o ano de 2034 apenas 20% dos resíduos gerados em São Paulo sejam destinados aos aterros sanitários, segundo o Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, o que diminuiria significativamente a emissão de metano na cidade. Atualmente cerca de 11 mil toneladas por dia de resíduos sólidos da cidade são destinados aos aterros. E somente 2,5% de resíduos são utilizados em reciclagem.
Também foi falado sobre o Programa de Compostagem de feiras no Bairro da Lapa na cidade de São Paulo, que constituiuma alternativa de tratamento adequado e sustentável, além de educar a população e incentivá-la a realizar a compostagem em suas casas, através do Programa Composta São Paulo, ambos os programas são da Autoridade Municipal de Limpeza Urbana – Amlurb.
Quando se fala em geração de energia relacionada a resíduos sólidos, devemos eliminar a ideia de incineração, mas investir na biodigestão e na capacidade que temos de diminuir a demanda energética através da utilização de matéria prima vinda da reciclagem. A reutilização, e a não geração de resíduos são as prioridades na Política Nacional de Resíduos Sólidos.
* Caroline Oliveira compõe a equipe de Comunicação do Instituto Pólis; Victoria Risso é secretária executiva da Aliança Resíduo Zero Brasil
Confira a agenda dos próximos encontros do Ciclo de Diálogos Resíduo Zero:
3º Encontro – Resíduos sólidos e promoção social: o movimento de catadores na cidade de São Paulo
Dia: 4 de agosto de 2016, quinta-feira
Horário: das 14h as 17h
4º Encontro – Resíduos sólidos e educação
Dia: 1 de setembro de 2016, quinta-feira
Horário: das 9h às 12h
5º Encontro – Resíduo zero e as alternativas à incineração
Dia: 6 de outubro de 2016, quinta-feira
Horário: das 9h às 12h
Local: Sede da UMAPAZ
Av. Quarto Centenário, 1268. Acesso pelo portão 7A